20 de agosto de 2010

a cidade de queluz existe?


por vezes temos dúvidas metafísicas que nos assaltam nos momentos mais inesperados.
hoje, enquanto lia o jornal, tropecei numa conversa sobre queluz, a cidade e as suas freguesias.

eu nunca percebi muito bem a razão de algumas localidades terem tanto orgulho nas suas classificações administrativas, como se de um campeonato se tratasse.
moro em queluz desde 1953 (sim, há mais anos que bués).
ao tempo queluz era uma aldeia.
o pendão ainda era tratado pelos queluzenses como uma localidade autónoma; o bairro económico era uma enorme quinta, o monte abraão era bom para semear trigo e caçar coelhos, massamá era uma estrada ladeada de quintas e, vagamente, toda a gente se conhecia.
mas havia já a 'ferver' um movimento dos 'melhores' queluzenses para a elevação a vila, coisa que obteve em 1961.
foi uma imensa e merecida vitória, diziam os notáveis senhores.
queluz ficou igual ao que era: nem maior nem mais pequena, nem melhor nem pior.
mas 'a luta' não acabava ali. obtida a 'vila', havia que subir mais um lugar na classificação e passar a cidade.
e em 1997 lá passou queluz a poder chamar-se cidade, integrada por 3 freguesias.
a questão que me assaltou hoje ao ouvir a conversa de circunstância no café, foi se a soma de 3 freguesias que cresceram separadamente umas das outras (embora monte abraão e queluz ainda tivessem durante mais tempo alguma ligação funcional) serve para que esse conjunto possa ser chamado uma cidade.
para ser uma cidade, ou uma qualquer outra forma de classificação administrativa, seria necessário existir uma espécie de 'governo' comum, com uma estratégia de administração e desenvolvimento que fosse pensada e feita para o conjunto das freguesias que constituem a cidade.
o que vemos hoje é cada freguesia a puxar pelos seus galões ignorando olimpicamente a outra, privilegiando claramente os intereses pessoais, carreiristas e partidários contra os interesses do aglomerado urbano e dos seus habitantes.
a cidade de queluz não existe !
é uma ficção administrativa.
mas podia existir, e seria útil que existisse, se 'a cidade' tivesse, de facto, uma forma de gestão que funcionasse para o conjunto da cidade.
hoje quem mora em massamá, jamais diz que mora em queluz (de facto o nome da cidade onde mora) e quase o mesmo se passa no monte abraão.

o triste nisto, é que ainda sem este assunto resolvido, o grande objectivo agora é o concelho.
como se a simples mudança administrativa resolvesse alguma coisa.
o exemplo da passagem a cidade não ajuda muito à causa, mesmo achando que a tal autonomia concelhia pudesse ajudar a resolver alguns assuntos de absurdos administrativos (como a divisão de massamá em duas freguesias, ou a separação de queluz de baixo (claramente integrada funcionalmente em queluz), noutro concelho.
a ver vamos, como diria o cego.

9 comentários:

L disse...

Os concelhos/municípios são hoje confundidos com as cidades. Ainda temos um modelo político/administrativo, na minha opinião, ultrapassado.

Mas a grande vantagem de Queluz ser concelho (com as freguesias de Queluz-de-Baixo/Tercena, Almargem do Bispo, Belas, Casal de Cambra, Queluz, Monte Abraão e Massamá) é a de ter um governo próprio, eleitos próprios.

No Plano Estratégico do município de Sintra, Queluz nem sequer existe. Chama-se Sintra Urbana. E o plano prevê o reforço da marca Sintra e da identidade Sintra na cidade de Queluz.

Ora isto serve a cidade de Queluz?

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Sintra já tem mais população do que Lisboa e o facto de ser também um dos concelhos maiores da Área Metropolitana de Lisboa fez com que se torna-se um município ingovernável.

O poder de compra desce todos os anos e já está abaixo da média nacional. Estamos todos a regredir por falta de organização político/administrativa.

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Queluz raramente é referenciado no INE por não ser município. Para Queluz não há qualquer interesse nas estatísticas da vila de Sintra ou de Mem-Martins ou de Agualva-Cacém. As relações e a área de influência são quase inexistentes. As relações de Queluz dão-se sobretudo para Oeiras, para Amadora e para Odivelas/Loures.

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Queluz tinha mais território e condições estruturais para ser concelho do que Odivelas. Por razões políticas e de militância, Odivelas foi primeiro concelho do que Queluz.

Anónimo disse...

W...o que vemos hoje é cada freguesia a puxar pelos seus galões ignorando olimpicamente a outra, privilegiando claramente os interesses pessoais, carreiristas e partidários contra os interesses do aglomerado urbano e dos seus habitantes."
Caro Senhor, ao fazer tal afirmação não sei a quem se refere em concreto, mas tenho a certeza que não envolve Monte Abraão e os seus autarcas. Acabando o meu 4º mandato não quero seguir a carreira política. No caso da REN, procedi judicialmente contra a REN (gerida por socialistas) e contra o Governo (PS), Partido em que milito. Como pode verificar, nem interesses pessoais, nem "carreiristas", nem partidários!! Sempre, sempre, a defender os interesses da população, não só de Monte Abraão como também a de Sintra.
Cumprimentos.
Fátima Campos
Presidente JF Monte Abraão

Anónimo disse...

W...o que vemos hoje é cada freguesia a puxar pelos seus galões ignorando olimpicamente a outra, privilegiando claramente os interesses pessoais, carreiristas e partidários contra os interesses do aglomerado urbano e dos seus habitantes."
Caro Senhor, ao fazer tal afirmação não sei a quem se refere em concreto, mas tenho a certeza que não envolve Monte Abraão e os seus autarcas. Acabando o meu 4º mandato não quero seguir a carreira política. No caso da REN, procedi judicialmente contra a REN (gerida por socialistas) e contra o Governo (PS), Partido em que milito. Como pode verificar, nem interesses pessoais, nem "carreiristas", nem partidários!! Sempre, sempre, a defender os interesses da população, não só de Monte Abraão como também a de Sintra.
Cumprimentos.
Fátima Campos
Presidente JF Monte Abraão

carlos disse...

caríssima senhora presidente da junta de freguesia do monte abraão,

agradeço-lhe ter-me dado razão quanto à parte em que afirmo estar cada freguesia apenas preocupada consigo própria e pouco com o conjunto da cidade: falou da sua freguesia, como esperava que o fizesse.
como queluzense quase desde que nasci, acho, sinceramente, que os seus mandatos se caracterizam pela grande defesa exclusiva da sua freguesia e 'ignorância olímpica' do conjunto da cidade.
o que é óptimo para a freguesia, mas péssimo para a cidade, se é que alguém realmente acha que ela existe.
pessoalmente acho mais 'grave' o caso de massamá, que se está claramente a assumir como uma cidade dentro da cidade.
mas que não existe uma actuação concertada como conjunto urbano habitacional entre as 3 freguesias da cidade, não é preciso viver cá há muito tempo para sentir isso.
se os responsáveis das freguesias não o sentem ou não o conseguem verbalizar, então o caso ainda é mais grave do que eu imaginava.

mas obrigado pelo seu comentário, e tem aqui uma casa ao dispor para defender as suas opiniões.

carlos disse...

caro/a l,

apenas são confundidos os municipios com as cidades nos casos em que os limites do concelho se confina à cidade, coisa que apenas conheço 3 casos (lisboa, porto e s. joão da madeira).
no entanto, se olharmos para cidades com múltiplas freguesias, que são muitas, conseguimos vê-las como uma identidade comum.
alguém de coimbra diz que mora na cidade de coimbra e, eventualmente dirá que mora nos olivais; um sintrense diz que mora em sintra e eventualmente dirá que mora na vila, na estefânia ou s. pedro.
a cidade de queluz não tem essa unidade porque ninguém realmente quer que ela exista.
um habitante de massamá nem sonha que mora em queluz e o monte abraão é hoje muito mais 'independente' do que foi antes da invenção da cidade.
a questão do concelho é outro assunto completamente distinto.
acho absurdo existirem concelhos com meio milhão de habitantes como acho absurdo existem alguns com menos de 5000 moradores.
do mesmo modo que acho absurdo existirem escolas com menos de 20 alunos ou mais de 3000.

era excelente que o actual poder de compra do concelho de sintra estivesse abaixo da média nacional, porque teríamos um país muitíssimo mais rico do que temos.
infelizmente para portugal, a média nacional é inferior a sintra, que, de facto, não é boa.

o problema de queluz não é a falta de visibilidade nas estatísticas do ine (onde obviamente só está quando estas se reportam a freguesias e aí teremos que somar as 3 por não existir uma identidade comum.
nem i ine tem nada contra queluz, nem sintra tem poder sobre as estatísticas do ine.
quando queremos lutar por um objectivo (neste caso o concelho), devemos ser objectivos e não inventar teorias de conspirações inexistentes.

as relações funcionais de queluz são, na sua imensa e esmagadora maioria, com lisboa. tudo o resto é fantasia.
com oeiras são nulas (excepto para ir à praia), com odevelas absolutamente inexistentes e com a amadora são e sempre foram um mal necessário (por mal necessário entenda-se uma espécie de ódio de estimação nascido da inveja do crescimento da vizinha do lado).

quanto ao que serve a cidade de queluz é o bem estar dos seus habitantes. a marca sintra não é tida nem achada para o assunto (embora tenha dado jeito para subsidiar o basquetebol da terra alguns anos).
eu estou-me nas tintas para que o rótulo que coloquem no progresso de queluz seja este ou aquele.
preocupa-me este espaço urbano onde cresci e onde tenho as minhas referências.
e é esse espaço que anda a ser maltratado há imensos anos, pelo município e pelas freguesias.

Fátima Campos disse...

Caro Senhor,
Mais uma vez volto ao assunto da cidade de Queluz. De que queria que eu falasse a não ser da Freguesia a que tenho a honra de presidir há pouco mais de 13 anos, desde a sua criação. Ia falar de Queluz ou de Massamá? Claro que não. Quando termina o seu último comentário com "...preocupa-me este espaço urbano onde cresci e onde tenho as minhas referências.E é esse espaço que anda a ser maltratado há imensos anos, pelo município e pelas freguesias.", penso que se esteja a referir em concreto à sua Junta de Freguesia, a de Queluz, onde V. Exa. diz residir. Terei todo o gosto em recebê-lo em Monte Abraão e mostrar-lhe tudo o que a Junta de Freguesia tem feito ao longo destes 13 anos.
Cumprimentos.
Fátima Campos

T disse...

Honra seja feita à Fátima Campos. É uma pessoa interessada, interveniente e responsável. Uma nova geração de dirigentes autárquicos. Parabéns. Quem me dera que fosse presidente da minha freguesia aqui em Lisboa.

carlos disse...

cara senhora presidente,
nunca coloquei em causa a sua dedicação à sua freguesia de monte abraão.
se bem se recordará do que escrevi no meu texto, a minha preocupação, ou a minha dúvida, está em existir a cidade de queluz como uma unidade homogénea que aglutina o conjunto do espaço que lhe foi concedido administrativamente.
o que eu disse, e repito, foi que os diversos responsáveis pelas diferentes juntas de freguesia apenas de preocupam com a sua freguesia e'ignoram olimpicamente' a cidade.
achar que a 'defesa' da cidade diz respeito apenas ao presidente da junta de freguesia de queluz é o que em linguagem futebolística se costuma chamar 'chutar para canto': aliviar rapidamente o perigo da nossa baliza que a seguir logo se vê.

quando falo de queluz onde vivi toda a minha vida, refiro-me ao espaço administrado pela junta de freguesia de queluz onde vivi muitos anos, pelo espaço ocupado pela freguesia do monte abraão onde também cresci e falo do espaço administrado pela junta de freguesia de massamá onde moro agora.
tal como aquilo que motivou a minha dúvida sobre a existência de queluz como cidade, também a senhora presidente achou que eu morava na freguesia de queluz por dizer que moro 'em queluz': a dúvida dos cidadãos é a certeza dos responsáveis.
mas, puro engano: moro na cidade, não na freguesia.
ou seja, falo da 'cidade'.
coisa que, repito, nenhum dos presidentes de nenhuma das juntas de freguesia se parece preocupar.
gostava imenso de estar errado, caríssima senhora presidente.
mas os factos, infelizmente, mostram-me que a 'cidade de queluz' de facto não existe. é uma ficção administrativa.
quanto ao convite para visitar a freguesia, agradeço, mas é uma coisa que faço frequentemente: poucos são os dias que não ando pela freguesia do monte abraão.
e, pela minha parte, renovo a disponibilidade para sempre que o desejar aqui vir dizer de sua justiça, discordar do que discorda, ou afirmar o que achar justo.

MCV disse...

Carlos:
Andei a vasculhar (a propósito da reestruturação actual) e nada encontrei que dissesse que a cidade de Queluz compreendia as três freguesias.
É uma questão interessante a de saber quais os limites da localidade chamada Queluz ao longo dos tempos. A absorção da Ponte Pedrinha, do Pendão, por aí fora.
Ando a escarafunchar nisso. Que como coisa em muitos casos subjectiva, está cheia de pontos de interrogação.
Cumprimentos