5 de janeiro de 2010

Tartarugas, peixes e lagostins

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(foto:trip advisor)
Inesperadamente relembrei uma experiência para a qual fui convidada quando trabalhei em África e na qual não pude participar: refiro-me ao momento em que imponentes tartarugas, em deslocação nocturna, se dirigem vagarosamente ao areal para a postura. Na altura não pude estar presente com a equipa que iria fazer o documentário, pois era mãe de uma criança de dois anos e o avançado da hora – a participação equivalia a uma ‘directa’ - forçava-me a ficar em casa. No dia seguinte, ao ver as fantásticas fotografias dos sulcos deixados na areia – pareciam marcas de gigantescas rodas de tractor – imaginei como deveria ter sido marcante presenciar o acontecimento.
Relatando o episódio há algumas horas aos meus alunos na sequência de me terem perguntado se poderiam participar na adopção de um qualquer animal, quer em reserva quer no jardim zoológico, recebi logo uma resposta viva do André, um dos miúdos mais entusiásticos do grupo: « a natureza é sábia,professora, os ovos são em número quase incontável, pois muitos desses animais recém-nascidos servem de alimento às aves marinhas antes de alcançarem a água». A situação, certamente conhecida por muitos, fez-me lembrar uns peixes apanhados nos pegos (lagos formados pelas águas pluviais nos ‘buracos’ deixados nas pedreiras). Tendo-me sido oferecidos cerca de uma dezena de peixes alaranjados por lá capturados , coloquei-os num pequeno lago do jardim. Durante muitos anos, viveram felizes e reproduziram-se em abundância. Dava gosto vê-los, vivos e coloridos, em movimentos rápidos. No passado ano, fiquei surpreendida quando vi este pequeno espaço límpido e desabitado. Perguntei ao zelador mais dedicado – o senhor que cuida das plantas – o que teria sucedido. Informou-me que tendo sido um ano de grande agitação marítima, tinha dado conta de que várias gaivotas rondavam o local. Só me surpreendeu o facto de tal acontecimento ter ocorrido tantos anos depois de uma vida despreocupada para estes animais.
Não percebendo nada de questões ambientais e recusando imprimir a estas linhas um teor moralista, estas situações acabam por me levar a estabelecer associações que, a dada altura, tento travar. Por isso mesmo, acabo por sorrir ao lembrar dois episódios: um deles sucedeu a um jovem que ansioso por mergulhar – a poucos quilómetros da escola - nestas águas num dia de calor, atirou-se à frescura convidativa esquecendo-se de tirar das costas a mochila com os livros. Outra – esta mais maliciosa – consistiu no facto de em determinada aula de uma professora ‘estreante’, os miúdos terem largado umas boas dezenas de lagostins apanhados no local sobre a secretária, o que terminou com a docente aos gritos em cima de uma cadeira.

5 comentários:

Luísa disse...

Caramba... adorava ter sido da turma dos lagostins!! Nunca me passou pela cabeça e agora já é tarde para essas coisas giras. Claro que lamento pela professora, mas que tem muita piada, tem!!

teresa disse...

A minha filha leu o 'post' agorinha mesmo e também se riu... até me perguntou se tinha sido verdade (claro que foi!).

E eu fiz ar solidário quando soube da façanha (tentando não imaginar a cena, para não parecer uma insensível). No caso pessoal e com uma turma destinada só a professores 'veteranos' para evitar aborrecimentos de maior, só me 'tocou' um lagarto (ainda por cima azul, são lindos e raríssimos) e o aborrecimento foi ver as meninas aos gritinhos em cima das cadeiras, como se fosse um crocodilo:)

Luísa disse...

Se fosse comigo... a história do lagarto... eu ficava sem voz de tanto e era a primeira a fugir da sala, qual cadeira qual quê... eu acho essas bicharadas um NOJO! Até sou gozada pelos meus colegas de trabalho por causa de uma salamandra... por isso já vê... só de pensar, até me arrepio!!!

Guma disse...

Olá Teresa,
São estes retalhos que revisitados nos trazem a boa disposição e nos transportam no tempo também.
Estava a comentar à pouco que desde que sai de casa e até chegar ao trabalho, não vislumbrei um sorriso sequer na face de tanta gente com que me cruzei. Felizmente que aqui passei, me ri e espelhei à minha volta essa alegria. O meu dia melhorou bastante, obrigado.
Kandandus

teresa disse...

Olá Kimbanda.

Acabei de contar aos miúdos que tinha escrito um texto sobre a nossa conversa de ontem que começou sobre tartarugas e terminou em 'pegos'e eles respoderam: 'muito gosta de escrever!'.

Mais do que de escrever, realçaria a faculdade de me divertir - até a partir de pensamentos - quando me lembro de estórias (expressão estreada por Jofre Rocha no seu 'Estórias do Musseque') como estas.

Quanto a 'fisionomias carregadas', muitas delas a passar a palavras 'crivadas de ferros', atrever-me-ia a acrescentar que a crise não é justificação para tudo... basta olharmos para as crianças do musseque ou da favela para contrapor a ideia perigosamente enraizada.

Ainda bem que o post teve a faculdade de trazer uma ínfima parcela de boa disposição àqueles que por aqui comentaram. Tudo de bom:)