23 de janeiro de 2010
ATÉ ESSE MOMENTO
Lembrarás então o pai aqui sentado
A máquina de escrever no chão
Os discos na parede entre a luz e o pó
Irão passar talvez muitos anos
Farás promessas que não vais cumprir
E dirás ruas para voltar noutras horas
Será como quem percorre um caminho
Iluminado pela luz do teu olhar
À procura das palavras subterrâneas
Lembrarás então o pai aqui sentado
Um gelado presente do indicativo
E silencioso que não fala – não esquece
Passarás nas tuas mãos um fio
Será talvez a memória das noites
O tempo do leite e das fraldas
Será como quem procura descobrir
Nos desenhos (nos cadernos escolares)
Uma outra maneira – a tua outra voz
Lembrarás então o pai aqui sentado
Não como pai mas como anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu do outono
Terás nas tuas mãos um retrato
O voo das aves por cima da casa
Como inesperada vírgula do tempo
Será como quem procura fragmentos
Num momento ou talvez num lugar
Na tua idade como um portão aberto
José do Carmo Francisco, poema encontrado em:
http://tempodascerejas.blogspot.com
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