17 de dezembro de 2009

O dia 25 de Novembro de 1967


Recordo a enorme cheia de 25 de Novembro de 1967. Um dos visitantes deste blog deixou, em comentário sobre um outro Novembro, o de 1975, o link para o vídeo sobre o acontecimento marcante.
No caso pessoal, lembro-me de ter acordado com a avó materna muito preocupada, pois o quarto onde dormia o meu irmão mais novo, ainda bebé, tinha ficado alagado, dado a varanda contígua não ter o cano de escoamento das águas da chuva a exercer as suas funções. Os meus pais ficaram retidos em Lisboa, em casa dos meus avós paternos, só regressando ao Algueirão no dia seguinte . O carro deles não “flutuou” como tantos outros, pois era uma daquelas “banheiras” mesmo pesadas.
Como alguns amigos com quem troquei mensagens me deixaram diversos depoimentos, como lembrança passo a transcrever alguns dos recebidos a 25 de Novembro do presente ano:
Hoje o meu pai faz 94 anos. Naquela noite de sábado (tenho quase a certeza que era um sábado), estávamos em casa, a festejar os seus 52 anos, e chovia, chovia, chovia. No dia seguinte, a minha mãe e avó foram à missa e vieram para casa contar as desgraças que por lá eram comentadas devido às cheias. O meu pai achou que estavam a exagerar. Todavia, quando regressou do seu passeio matinal e dominical ( o meu pai não ia à missa), entrou em casa lívido! Tinha visto, no rio Trancão (um afluente do Tejo que passa em Sacavém, onde nós morávamos), passarem muitas ovelhas mortas e inchadas, muitas madeiras, roupas de pessoas, alguidares de plástico,... enfim, tudo isso, provocado pelas cheias, estava a ser arrastado pela corrente.
Recordo que na praia do Magoito havia frigoríficos, fogões, etc. que tinham ali desaguado.
Um riacho insignificante tinha-se transformado e, por onde não passava antes, transbordava e furiosamente trazia com ele tudo o que encontrava.

Tinha 15 anos, estava no Liceu rainha D. Leonor e organizámo-nos em brigadas de apoio aos bairros atingidos, no meu caso, na zona entre Campo Grande e Laranjeiras, bairros muito degradados invadidos pela água e lama. Lembro-me de andarmos nos autocarros públicos munidos de baldes, enxadas, botas, ... e ninguém cobrava bilhete. E de colectarmos bens de 1ª necessidade para distribuir. Limpei de lama muita barraca, naqueles dias, e foi o meu 1º contacto com a acção civil espontaneamente "organizada" e a miséria em que estavam as pessoas.

9 comentários:

luis tavares disse...

Também andei nisso, andamos todos na zona da Pontinha pra baixo.

teresa disse...

E o post surgiu por associação e a propósito de catástrofes naturais. O vídeo pareceu-me interessante como memória de um acontecimento marcante por aspectos tão negativos (à excepção da consciência cívica dos jovens, é claro).

Luísa disse...

Gostei de ler o testemunho azul. É daqueles que dá esperança na humanidade...
Por razões óbvias, eu cá não senti nada. Mas já tinha tido o meu susto em Maio com um abanão de 4,5 com o epicentro na Floresta Negra, ou seja, a cerca de 60 km da minha cama!!!
Ainda bem que não passaram de sustos!!

T disse...

http://www.cm-lisboa.pt/?idc=472&idi=43109

E aqui recolhemos a informação de duas revistas da época relativas a esta catástrofe. O interessante é que os textos foram mais censurados que as imagens. No entanto, na Revista Notícia, com redacção conjunta em Angola e Portugal, encontrei fotografias terríficas de cadáveres amontoados. Centenas de pessoas morreram. Um ano depois o balanço era confrangedor. Mas a essa revista ainda termos que a tratar.

teresa disse...

O testemunho a azul é de alguém que, felizmente, mantém a mesma forma solidária e desprendida de estar na vida:)

E relativamente ao link da Câmara, fiquei baralhada, pois o mesmo refere o 25 de Dezembro (se vi bem, coisa difícil a esta hora) depois de já tanto ter estado a trabalhar horas esquecidas ao computador...

T disse...

Viste bem:) Toda a gente faz "Tijelas" de vez em quando:)

teresa disse...

Pensava que isso só acontecia a profes depois de umas boas dezenas de testes e de 'runiões':0)

T disse...

Pois não sei. Quem o escreveu não é professora, mas já pedi que corrigissem.

almariada disse...

também me lembro destas cheias, tinha 5 anos e morava em Odivelas, mas no nosso prédio e nos outros ao pé não aconteceu nada, o que me pareceu muito estranho...