18 de outubro de 2009

Uma indizível tristeza

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Vejo o táxi parado e pergunto se está livre. Afavelmente o taxista convida-me a entrar. A pouco e pouco estabelece conversa. A propósito do stress, conta-me que tem uma casa fora de Lisboa, que foi construindo pouco a pouco, conforme as possibilidades.Aqui faz uma pausa e diz que só parou um tempo, quando a mulher morreu. Não pergunto nada, mas sinto-lhe uma indizível tristeza. Conta como criou o filho, lhe deu o curso, lhe montou o escritório, lhe ofereceu uma casa e como gosta da nora, que lhe recorda a própria mulher. Aqui pára de novo e numa voz lenta conta o acidente brutal em que ela perdeu a vida. "Éramos tão felizes sabe, nunca discutíamos, decidíamos tudo em conjunto. Acho que é mesmo a vida, as relações tão felizes assim não são feitas para durar". Fico assim com um nó na garganta e quando pago noto-lhe as duas alianças de ouro juntas. São quase iguais às que herdei da minha mãe. e , inevitavelmente, penso nas percas que sofremos ao longo da vida e como nada as consegue colmatar. E é isto.


Fotografia de Artur Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa

2 comentários:

César Ramos disse...

Os taxistas deveriam criar blogues!
Chamados vilmente de 'fogareiros', são poços profundos de conhecimento popular, exemplos de vida e de experiências humanas dolorosas umas, felizes outras,... quase todas fantásticas!
Este episódio é dos que fazem pensar,... e muito!

"Carpe diem, quam minimum credula postero"
(é aproveitar o dia, acreditando o mínimo no amanhã)

Pode ser pessimismo, mas excesso de optimismo também é arriscado; e o meio termo, está a ficar dificíl praticar (...)

T disse...

Se calhar já existe algum blog de um taxista...