"Se a história do feminismo português é principalmente doutrinária, não quer dizerque se não tenha por vezes revelado em manifestações concretas. Uma das mais curiosas foi a participação da médica Dra Carolina Beatriz Ângelo, feminista das mais convictas e ousadas, nas eleições legislativas de 1911.
A lei eleitoral da época considerava eleitores os portugueses, maiores de 21 anos, sabendo ler e escrever ou sendo chefes de família. A Dra Carolina Ângelo entendeu que, visto ser portuguesa, maior, saber ler e escrever, e além disso, como viúva, ser chefe de família, tinha o direito de votar. Requereu, portanto a sua inscrição como eleitora, inscrição que lhe foi recusada. Mas dessa recusa recorreu para os tribunais, que lhe deram razão.
E assim, a Dra Carolina Ângelo votou nas eleições às constituintes, no dia 28 de Maio de 1911, data histórica nos anais do feminismo português, sendo, não só a primeira e até hoje única portuguesa, mas também a primeira latina, que exerceu tal direito.
Para evitar a repetição de semelhante facto, todas as nossas leis eleitorais especificam nitidamente o sexo masculino dos eleitores.
A morte prematura da Dra Carolina Ângelo constituiu para as feministas e mesmo para todas as mulheres portuguesas, uma perda irreparável.
Elina Guimarães, A História do Feminismo Português, em Magazine Civilização de Julho de 1930
3 comentários:
É por Esta e por Outro(a)s que exerço o direito de voto e que não compreendo a abstenção.
Cumprimentos,
Carla Jané
Carolina Beatriz Ângelo,
viveu de forma combativa a luta p/pressionar poderes quanto à obtenção de direitos p/as mulheres.
Encabeçou o movimento sufragista na ausência de Ana de Castro Osório, no Brasil - para acompanhar o marido, Cônsul de Portugal -, intensificando a mobilização diária até à exaustão, arruinando a saúde que falhou com uma síncope e a matou aos 33 anos de idade!
A humanidade ficou mais pobre com este precoce desaparecimento, que foi notícia no semanário "Votes for Women", orgão sufrafista britânico, e muitas personalidades 'carpiram' no seu funeral discursando laudatoriamente, como manda a 'tradição' (...)
Porém, o seu Vulto continua
asfixiado no passado e maltratado pela historiagrafia! É ainda lembrada apenas no superficial; alteram e confundem-lhe dados biográficos, e desvalorizam como, quando, onde, quando e porquê, votou! (...)
Vergonhosa,... a tentativa de apagamento da Dra. Carolina Beatriz Ângelo!
Não é,... nem nunca será demais evocá-la!
Parabéns ao " Dias " por este excelente post, e pelo título Majestoso que lhe deu:
« A Pioneira»!
O texto é da Elina Guimarães. Acho interessante ela louvar o pragmatismo desta mulher, que segundo a foto, parece cheia de força interior.
Eu também prefiro as pessoas que ousam fazer:)
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