19 de julho de 2009
Those were the days...
Viver num sítio isolado, longe da estrada e das casas mais próximas foi uma opção que, felizmente, acabou por se concretizar. Saída de um prédio com uma infinidade de apartamentos, muitas vezes não conhecia grande parte das pessoas com quem me cruzava nas escadas, sim, porque apesar de viver então num quarto andar, a inexistência de elevador obrigava a carregar quilos de sacos de compras até às alturas e nem toda a vizinhança- há sempre excepções - respeitava as regras básicas de civilidade, obrigando-me (bem como aos moradores dos 19 apartamentos restantes) a ouvir Julio Iglesias às 8h da manhã de domingo e a conhecer as fantásticas potencialidades de algumas aparelhagens...
O isolamento foi bem-vindo, nunca foi possível a concentração no meio de música num volume mais alto ou de vozes e ruídos através das paredes sempre que as tarefas o exigiam, sendo um valor cada vez mais defendido não ficar no meio da confusão.
Quando, já por aqui, havia maior grupo de amigos em casa e todos falavam ao mesmo tempo (quando há muita gente é inevitável), lá vinha a tirada: "não façam barulho por causa dos vizinhos" e riamos, pois nem que fossemos 50 conseguiríamos incomodar alguém do exterior, mas, de acordo com a frase "nunca digas nunca", ao fim de um tempo considerável a habitar num espaço que imaginava de silêncio total, eis que se instala uma mega banda a ensaiar na fábrica desactivada do outro lado da rua. É certo que não conseguem evidenciar-se tanto como certos vizinhos de outrora, também é certo que a M., em plena adolescência, já ficou entusiasmada quando percebeu quem eram os músicos e não resistiu a assistir a parte de um ensaio. No que me toca e assumidamente extra-terrestre, ainda ontem, a horas avançadas, pensei "que estranho, passam tantos carros ao longe, na estrada, com os rádios no volume máximo..." . Só hoje, ao distinguir um som de metais à distância, é que me apercebi qual a origem da "sensação auditiva", bem como dos horários dos ensaios: como é possível trabalharem de madrugada e já o estarem a fazer de novo a esta hora? Sempre há gente com muita energia!
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6 comentários:
E aqui ao lado na sexta houve imenso barulho por causa do incêndio. Eu dormia de janela aberta e nada ouvi!
Invejo as pessoas que 'aterram' e dormem mesmo bem! Nos idos 70, o mano J. entrava fora de horas pé-ante-pé no meu quarto (então alcatifado, era a época...) para remexer na minha mochila à procura de algum cigarro e acordava-me sempre!:(
Vivo num 4º andar e os meus vizinhos do 'Frente', um dia, pediram-me desculpa por ensairem música em casa!
O casal pertence a uma Orquestra Sinfónica e a 'ferramenta' deles é o violino, e a minha vibração preferida é a de 'Stradivarius'!
Viver nesta atmosfera, que já disfrutava caladinho, levou a perguntar-lhes se não deveria pagar para ouvir... em vez da concessão das desculpas!
Acho que agora tocam mais alto, agradeço, e aplaudo...
No andar de cima e por baixo de mim é que compraram casa noutros lados. Um foi para Tomar, e o outro para Carcavelos ... mudança de ares? gozar a reforma de diferente maneira?... ou fartaram-se do "S.Carlos" dentro do prédio?!
Acabou o barulho e a vozearia daqueles vizinhos,... resta-me o 'arrastar' da resina nas cordas dos violinos... acompanhados ao canto dos melros da rua... que são muitos,... mas que para mim, é sempre o mesmo:
- o Poema de Guerra Junqueiro
"O MELRO"
[Sorry pelo tempo e espaço gasto!]
Quanto a ter vizinhos assim (para além de bons músicos, seres civilizados) é sempre agradável.
Relativamente à extensão do seu comentário - para além de ser um depoimento de agradável leitura - será a mesma mínima pois, apesar de 'postadora' devo ser das pessoas que por aqui maior extensão ocupa a comentar (excedendo às vezes o espaço ocupado por alguns 'posts' propriamente ditos)
Teresa,
Obrigado, por gostar de eu ter vizinhos assim.
Não fosse o caso, se tocassem 'bate-chapas' já também teria ido para Tomar,
Carcavelos... quiçá: emigrado para a tal Ilha, que as pessoas 'escolhem' quando estão 'fartas'!...
Uma boa semana...
Uma boa semana, César.
A minha será certamente agradável a ouvir, do outro lado da rua, o som dos Kumpania Algazarra, dado que chegará 'amortecido' qb :)
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