3 de maio de 2009

PARABÉNS, MR. PETE SEEGER



Pete Seeger faz hoje 90 anos.
Toda a América lhe cantará os parabéns.

O mundo também.

Por aqui, hoje, Pete Seeger começou bem cedo a cantar.

Nesto preciso momento está a rodar "We Shall Overcome-Pete Seeger, Recorded Live at His Historic Carnegie Hall Concert, June 8, 1963. Dizer que é um disco fabuloso é pouco, é mesmo nada.

É um velho admirador das músicas e canções de Peter Seeger, da sua luta pela liberdade e direitos humanos, a sua verticalidade. Lamenta que os seus dedos não consigam ter o voo necessário para escrever sobre Pete Seeger, como ele merece que se escreva.
Gosta sempre de se interrogar para onde foram todas as flores, mesmo sabendo que a resposta é amarga.
Hoje é um dia feliz.
Desencantou um texto, escrito para um outro recanto, sobre a única vinda a Lisboa de Pete Seeger.
Por diversas vezes, Pete Seeger foi sondado para vir cantar a Portugal, mais concretamente à Festa do Avante. Indisponibilidade de datas não permitiu. Mas em 2 de Dezembro de 1983 foi mesmo possível trazer Pete Seeger a Lisboa.
Veio com a mulher Toshi, as suas canções, o seu banjo, onde está escrito “esta máquina cerca o ódio e força-o à rendição”. Pelo seu lado, Woodie Guthrie tinha escrito na sua guitarra: “This machine kills fascists”.
Desse memorável concerto foi feito registo sonoro que mais tarde seria publicado em disco. Uma edição limitada de 3.000 exemplares numerados numa caixa que contém 1 LP, o livro-programa do espectáculo, folheto com textos da gravação com tradução para português das canções, as fotos do espectáculo.
Se excluirmos as condições acústicas do Pavilhão do Desportos, os meios modestos de reprodução do som, pode dizer-se que poucas vezes um espectáculo, em Portugal, teve uma concepção e uma edição tão bem cuidada.
O programa é um livro de 142 páginas que apresenta vasto material documental da vida, do trabalho e da obra de Pete Seeger, um homem calmo, “ianque de esquerda” como gosta de se chamar, ou, como disse ao jornalista Viriato Teles: “espero que vocês pensem que sou comunista”.
Aborda o seu aparecimento na música folk americana a partir dos anos 30, os primeiros passos dados com Woody Guthrie, Leadbelly, Allan Lomax, a sua passagem pelos Almanac Singers, pelos Weavers: “nunca me considerei simplesmente um artista. Considero-me um contador de histórias, algumas vezes, um organizador. Mas talvez tenha sido uma sorte estar na lista negra – talvez nunca tivesse feito boa música, se não estivesse”.
Um capítulo do programa abarca o enquadramento histórico e político que envolve a vivência musical de Pete Seeger, com especial incidência para o tempo do mccarthysmo e os testemunhos de Seeger na Comissão de Actividades Anti-Americanas:
“Não responderei a nenhuma pergunta sobra as minhas actividades associativas, sobre os meus credos filosóficos ou religiosos, sobre as minhas convicções políticas ou, ainda, sobre como votei em qualquer das eleições.
"Considero tais questões impróprias para serem postas a qualquer americano, particularmente sobre coerção, como acontece aqui. (…) Sei que, em toda a minha vida, jamais fiz o que quer que fosse de natureza conspiratória e sinto profundamente que, na intimidação para comparecer perante esta comissão esteja implícita a diferença existente entre as minhas opiniões e as vossas e que por isso me considerem menos americano que qualquer outro.
"Mas amo muito o meu país(...) Há vinte anos que, por toda a parte, canto canções populares da América e doutros países. A canção, cujo título foi especificamente citada neste julgamento, “Wasn’t That a Time”, é uma das que prefiro. Gostaria de ter a vossa autorização para a cantar aqui antes de terminar".



- Não pode, retorquiu seco o juiz Murphy.
"Mas amo muito o meu país(...) Há vinte anos que, por toda a parte, canto canções populares da América e doutros países. A canção, cujo título foi especificamente citada neste julgamento, “Wasn’t That a Time”, é uma das que prefiro. Gostaria de ter a vossa autorização para a cantar aqui antes de terminar".
O concerto de Pete Seeger em Lisboa foi promovido por uma comissão constituída por António Macedo, Daniel Ricardo, João Paulo Guerra, José Jorge Letria, Ruben Carvalho, Sérgio Godinho e que dedicam o livro programa a “Adriano Correia de Oliveira que também estaria com todos nós".

4 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Também lá estive. Memorável.

teresa disse...

Que bom ver o Pete Seeger quase aqui no topo e chegar logo à memória "This land is your lsnd".

teresa disse...

"land"

gin-tonic disse...

Como não se esquece aquela sua velha canção: "Which Side Are You On?"