A CIDADE É A EXPERIÊNCIA QUE DELA TEMOS

Ao cair da tarde, quando saía do “Beira Gare”, olhou para a Estação do Rossio e viu-a deitada nos degraus. Chapéu branco, a ouvir música, a fumar uma cigarrilha.
Dizem-lhe que costuma andar por ali.
Quantos segredos esconde? Quanta sabedoria encerra? Ou desistência? Ou desânimo?
Decerto já sabe que o presidente Cavaco Silva incitou os portugueses a não irem de férias, a não aproveitarem as pontes de Junho, para exercerem o seu direito cívico, votando nas Eleições Europeias.
Não abandonará a cidade, mas também não irá votar em corruptos, em malandros, em galos pimpões. Tão pouco sabe em que bolso de que calças deixou o cartão de eleitor. Alguma vez o teve? Alguma vez votou?
Vê os dedos a levarem a cigarrilha à boca, uma, duas fumaças e o fumo que se enrola no cair da tarde. Um privilégio pequeno mas durável.
Que música ouvirá?
Se lhe perguntarem se é feliz, talvez diga que não anda à procura, mas que é possível.
A noite começa a avançar por cima dos telhados.