19 de março de 2009

Uma justa homenagem ao cronista

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Ao sável, a Arnelas
A Arnelas se vai por um barquito dócil, com remadas que fazem chape-chape na verdura líquida do rio. A barqueira, uma moça a quem tremem os peitos sob o blusão de ramagens, diz que “é mesmo um estantinho”, finca as pernas queimadas de sol no fundo alagadiço e grita ao pai velho e aciganado um “pois nã m’ajuda?!” de arremesso.
Do Porto ao areal onde varam a barca, são doze quilómetros escassos bordejando o Douro, pela estrada que leva à Foz do Sousa. Do outro lado daquele mediterrâneo comedido, acena a graça da povoação orgulhosa da sua vetustez. E são pinhais e vinha e mato verde, em flor, até onde a vista acaricia a linha arredondada e feminil dos montes.
Vamos ao sável assado nas brasas com arroz de “miúdos”, que em Arnelas se faz como em parte nenhuma. É uma barca de poetas, senhores: à proa o Ernâni, responsável por esta aventura gastronómica, torce a boca num sorriso beatífico e feliz. E há o Egito, que pode quanto quer, e o Papiniano, que traz uma ave misteriosa pousada no coração magnânimo, e o Luís, que é um anjo esquecido dos caminhos do céu.
Já a proa da barca roça a areia cinzenta. Depois, é a calçada pedregosa, aberta na encosta do morro. E a paisagem desdobra-se em tons ricos por sob um céu de névoa, manchada, aqui e além, do casario dos povos ribeirinhos. Aproveitando o favor da maré, lançam os pescadores as vargas do arrasto, que outros alam na praia em esforços combinados.
Do balcão medieval da Senhora Palmira, mergulham os olhos na humidade dos líquenes e musgos do pinheiral sombrio.

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