16 de março de 2009

Quem escreveu? De que livro foi retirado?

Pelas seis e vinte da manhã enfiou-se-me pelo quarto um telefonema de C.H.
Você ainda dormia?
Realmente.
Pensei isso. Seis e vinte da manhã, hora boa para encontrar as pessoas em casa.
Realmente.
Vou directo: estará você disposto e disponível para uma averiguação, trabalho puxado de pesquisa acerca de mistério até hoje insondado?
Havia açúcar na pergunta dele, fiquei de água na boca. Conhecera C.H. dias antes, num beberete; entre goles de branco seco e bolachinhas com fuagrá tínhamos descoberto a nossa paixão comum pela sobrenaturalidade.
Disposto, sim. Mas você sabe, essas coisas levam dinheiro, adverti.
Dinheiro não é problema, explicou C.H.
Bom começo: dinheiro não ser problema já soa a fantástico. Desde fedelho sonhava eu dedicar-me ao estudo de fenómenos, bruxas, fantasmas, assombrações, vozes do Além e tal, mas nunca me deram mãozinha de apoio, família ou entidades competentes. As entidades nem responderam às minhas cartas e ficaram-me com os selos que tive o cuidado de enviar. A família ralhava-me: Deixe-se de parvoíces, ouviu Mino?
O meu nome é Guilhermino João Ukkonen Miralva, mas sempre me chamaram Mino, excepto em ocasiões solenes, como exemplo o dia de alívio em que concluí o curso de Finanças. Detesto Finanças. Quando aos doze anos me fizeram aquela perguntinha estúpida, diga, meu filho, que raio quer ser quando for grande? , declarei honradamente a perdilecção por magia e ciências ocultas. Então decidiram: Bom, vais para Finanças.

Autor do texto: Mário Zambujal
Obra: À Noite Logo se Vê

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