Euforia matinal rasgando o ventre da noite.
Multidão desperta. Corta um cacilheiro o súbito azul das águas.
Acorda um povo sonolento. Lança espantos de olhar sobre inesperadas armas em florescimento rubro.
Eis a cidade invadida pela Primavera primordial.
Eis a palavra liberta do lápis, da garganta, do peito…
Um lenço branco acenado à despedida, agora flor de sangue em pleno pulsar vital.
Muda a Primavera no calendáro - Abril no meu país.
2 comentários:
Gostaria de ter sido mais velho naquela altura para ter tido maior percepção dos acontecimentos.
As faces das pessoas nas fotos transmitem tanta coisa que apetece estar lá e sentir a mesma coisa.
Isso tinha um inconveniente: ter agora mais vinte anos...
Não seria necessário ter mais vinte anos, digamos que quem tem boa memória (por enquanto ainda a tenho) e sempre teve uma família desperta para as injustiças sociais e políticas, bastar-lhe-ia ser na época adolescente. É que - apesar de em 73 ser a maioridade a idade dos 21 - assisti à detenção de colegas que ainda não tinham chegado aos 18, pois encontravam-se associados a actos subversivos (dizia-se na altura).
Também já aqui referi que, mesmo muito nova, me indignava e refilava contra a guerra em África.
E o dia 25 de Abril amanheceu em euforia, lá por casa com o meu pai a dizer que nesse dia ninguém iria à escola e ele não ia trabalhar. Uma semana mais tarde, quando subia o Bairro Alto rumo ao Britânico, onde estudava, os soldados pediam que entregasse o jornal aos seus colegas que se encontravam uns quarteirões mais acima. E independentemente de tudo o que já se viveu desde então - e se vive hoje - há que dizer que valeu a pena!
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