6 de janeiro de 2009
O CIRCO DE NATAL
O Natal da sua infância não era apenas os presentes e os filmes. Também era o Circo. Soube mais tarde que os bilhetes para o Circo do Coliseu eram caros mas o pai, assalariado de fracos recursos, caprichava, pelo Natal, em levar a família ao Circo. Antes iam lanchar a uma leitaria na Rua Barros Queiroz, em frente a uma casa de malas. A leitaria ainda lá está. Para a mesa vinha um prato com bolos para serem escolhidos e antes houvera o pequeno aviso que falava de que era, apenas, um bolo que se poderia comer.
Mas o Circo nunca o entusiasmou muito. Apreciava a cor, a música da orquestra, o rufar dos tambores, o brilho das lantejoulas, o homem que anunciava os números arrastando as palavras e os nomes, mas não gostava de ver os animais, o rapaz do trapézio voador assustava-o, apenas simpatizava com os palhaços, decerto agarrado ao lugar comum de que não há circo sem palhaços.
Um dia ouviu alguém dizer: quem já leu Jack London fecha os olhos quando aparecem os cãezinhos do circo. Mais tarde leu um livro, “O Sorriso Aos Pés da Escada” de Henry Miller e o circo ficou para sempre adormecido dentro dele.
O circo somos nós todos, como dizia o poeta. Ou a divagação de Augusto, o palhaço no tal livro de Henry Miller:
”E não é preciso mais para uma pessoa se transformar em “ninguém”! É o que nós somos – “ninguém”. E ao mesmo tempo “toda a gente”. Não é a nós que eles aplaudem, mas a eles próprios.”.
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