5 de dezembro de 2008

CARTA PARA GARTENSTRASSE, REINBEK

Dear Friends,


O Natal será sempre o encanto e a ternura da impossibilidade. O sem sentido de alguns presentes, como naquele conto de O’ Henry: ela vendeu o lindo e comprido cabelo para lhe comprar uma corrente, de que ele tanto gostava; ele empenhara o relógio para lhe comprar as travessas, de que ela tanto gostava, para por no cabelo.
Karl Valentim preferia que cortássemos do calendário o Dia De Natal, se com isso conseguíssemos que os restantes 364 dias do ano fossem todos de Natal.
Gostaria que o Natal não tivesse o carácter de que se tem revestido nos últimos anos: um consumismo desenfreado que dele fazem o dia mundial da hipocrisia.
As noites de Natal, aquelas que não mais posso repetir, passava-as em casa do meu pai, a família mais chegada, a comer bacalhau cosido com couves , a beber vinho tinto alentejano, a conversar pela noite fora, rematando-se a festa com carne de porco frita envolta em ovos mexidos, a que se seguiam os doces, umas fatias douradas, filhós e uns cálices de licor de ginja que, por Junho, se tinha colocado a marinar numa grande garrafa de vidro, juntamente com açúcar, aguardente branca, um pau de canela. A manhã começava a nascer, saía para regressar onde vivia e gostava do cheiro de Natal que sentia pelas ruas.
Tentamos fazer o mesmo com os filhos, tentar a reinvenção dessas noites felizes, mas é mais que certo: nunca se volta aos sítios onde fomos felizes. Falta, essencialmete, esse passe de mágica, que eram as conversas do meu pai, um brilhante contador de histórias.
Há coisa melhor que o Natal?
Há: os amigos! E que mais podemos querer do que um amigo para nos acender o dia, e que esse dia seja Natal?
Bebam um copo por este rapaz do sul que continua a sonhar com um Natal Branco, esse Natal com feiras de comidas e bebidas quentes, onde se compram os presentes, como a de Lubeck, de que vocês me falaram e onde vão todos os anos.
O Natal é um cantinho bom do ano, um aconchego.
Bom Natal!

2 comentários:

DAD disse...

adorei a carta e o blog


visite o meu
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teresa disse...

Tendo ficado a pensar nestas palavras, ainda acredito que consigamos construir um Natal aproximado aos natais da(s) infância(s) de cada um, talvez sem a presença física de muitos que nos são queridos, mas tentando perpetuar a sua memória entre os mais novos. Obrigada:)