14 de novembro de 2008

A tradição já não é o que era...



A olhar pela janela do escritório e conseguindo, neste Verão de S. Martinho extemporâneo, ver ao longe o Palácio da Pena e, num plano mais aproximado, as hortas cultivadas e os retalhos de pinheiros mansos a formar uma paisagem arrumadinha que é um regalo para o olhar, até apetece pedir ao mês de Novembro que não chegue ao fim.
É que com a chegada do seguinte, dá-se início àquela azáfama desgastante em que há atropelos até que se cumpra o Natal-consumo.
Para quem gosta de regar as alfaces, couves, ervas aromáticas e limpar as excrescências daninhas dos canteiros, deixo um breve apontamento sobre o primeiro dia deste mês. É que na minha aldeia – sim, sou aldeã por opção apesar de ainda hoje me esperar a correria dos transportes públicos de “grande cidade”-, já chegaram ecos da americanização. Passo a explicar:
Em cada primeiro de Novembro, as crianças tocam ao portão a pedir o “Pão por Deus”, aliás, até aprenderam na escola do centro paroquial que frequentam, os seguintes versos: “Pão por Deus, pão por Deus/Vamos de saquinho cheio, vamos com Deus”. E é um regalo vê-los abrir os sacos de pano costurados e bordados a primor pelas avós de onde espreitam castanhas, figos secos e broas perfumadas de erva-doce.
Acontece que este dia-de-todos os santos trouxe uma novidade, para além do quadro atrás descrito, alguns trajavam a rigor de acordo com o modelito yankee, e era ver uma pequena multidão de bruxas e de condes drácula a pedir rebuçados, bolachas e guloseimas outonais… a tradição já não é o que era!

6 comentários:

T disse...

Pão por Deus...há tanto tempo que não ouvia essa história:)
A Teresa está a tornar-se uma grande postadora mas é:) Assim como o Gin.

teresa disse...

Tanquiú, T.
Antes de cumprir as obrigações do dia, venho só desejar um excelente fim-de-semana.

Anónimo disse...

Essa do "modelito Yankee" nunca vi, mas deve ser digno de se ver.
Obrigada por este texto refrescante! :-)

Anónimo disse...

O anónimo sou eu, "je", esqueci-me de escrever o nome.

carlos disse...

na minha infância, quando queluz era uma aldeia grande, saí algumas vezes ao 'pão por deus'.
coisa estranha em alguém que mesmo com a educação muito católica sempre foi muito ateu.

Anónimo disse...

O pão por Deus foi uma tradição que extravasou convicções religiosas, cumprindo-se há algumas décadas em localidades dos arredores de Lisboa hoje ditas suburbanas. Onde eu vivi, igualmente na linha de Sintra, também era prática na infância.
Actualmente, só se comemora em pequenas aldeias como aquela onde moro,também próxima de Sintra, mas com características marcadamente rurais.
Quem se dedica a estudos de antropologia salienta em muitas destas festividades marcas remotas que antecedem a entrada do cristianismo na nossa "jangada de pedra".