18 de novembro de 2008

ONDE É QUE ESTÁS?


Houve um tempo em que se entrava num transporte público e viam-se pessoas a ler um livro.
Hoje dedilham nos telemóveis, mandando ou recebendo mensagens, a falarem alto, dando conta de conversas perfeitamente idiotas.
Houve um tempo em que se entrava num café e encontravam-se pessoas, sentadas à mesa, a ler um livro, a ler o jornal, a conversar.
Hoje há telemóveis espalhados pelas mesas, mais mensagens a enviar, a receber, mais conversas idiotas.
Houve um tempo em que as pessoas acabavam de ver um filme e discutiam as peripécias, a trama do filme.
Hoje, logo que os créditos começam a correr, desatam a pegar nos telemóveis para ler mensagens, para fazer chamadas.
Houve um tempo em que um homem convidava uma mulher – o contrário também acontece – para degustarem um petisco, conversar, namorar.
Hoje, chegam à mesa do restaurante, ele tira o telemóvel do bolso, desata a falar e ela fica a passar, com indiferença, os olhos pela lista e quando acaba de a percorrer, fica com ela entre mãos, os olhos a olharem não sabe bem para onde, à espera que ele acabe de falar ao telemóvel. Simplesmente, devia levantar-se e ir embora.
Houve um tempo, era ele miúdo, o Benfica metia um golo e mandavam-se pombos correio.
Hoje telefona-se para casa para que de lá informem se foi mesmo penalty, se foi, ou não, fora de jogo.
Houve um tempo em que os miúdos desciam as calçadas em carrinhos de esferas, subiam a calçada com o carrinho debaixo do braço, voltavam a descer.
Hoje, números de Maio de 2006, uma em cada três crianças do ensino básico tem telemóvel.
Ultrapassados deverão estar os números que em Dezembro de 2003 diziam que nove milhões de portugueses tinham telemóvel, uma das mais elevadas percentagens da Europa. Por uma vez, num quadro estatístico, Portugal não aparece no fim da lista.
Por isto nos julgamos europeus, quando não passamos dos mesmos desleixados de sempre, pobres, ignorantes, sem segurança social, sem uma política de saúde, de educação, sem um sistema de justiça, no mínimo credível, rodeados de gente corrupta em tudo o que é sítio.
Por viver permanentemente agarrados a um telemóvel se dirá que o que somos é um povo tagarela, tagarela de banalidades, onde se está, com quem se está, o que se está a comer, o que se tem vestido, a Bé deixou o marido, a Kikas levou duas bofetadas do namorado.
Sabe-se também que só em 15% das ocasiões o telemóvel é usado para a função básica de telefonar.
Não tem telemóvel. Em casos pontuais reconhece a sua utilidade, mas o exagero a que se chegou, leva-o a pensar: “Será possível, a toda esta gente, viver um dia sem um telemóvel?
Tem a convicção de que muita gente teria uma vida diferente se mandassem o telemóvel janela fora.
Não leu, não viu, apenas lhe contaram, que na parede de uma igreja pode ler-se:
“Deus não lhe vai telefonar. Por favor desligue o telemóvel”.


5 comentários:

teresa disse...

Belo post e que infelizmente dá conta da realidade destes tempos pós-modernos.
Mas a situação mais incrível que presenciei foi a de um casal, à mesa do restaurante, de "portátele" ligado e completamente alucinados enquanto o utilizavam, não prestando atenção a mais nada (nem à refeição):(:(

T disse...

Eu não gosto de comer ao som de telemovel. Mas diga-se a verdade, houve tempos em que tinha um de cada rede e psrecia a apanhadinha dos telefones. A velhice proporciona mais sabedoria:)
Desligá-lo não posso, o meu trabalho assim o implica. Não é VV?

Anónimo disse...

Só tenho telemóvel à cerca de 1 ano. Nunca lhe senti a falta e de início esquecia-me dele em casa! Depois, tanto me chamaram à atenção, que lá anda na carteira, muitas vezes até ficar sem bateria, porque continuo a esquecer-me dele! Quando me pediam o nº de telemóvel e eu dizia que não tinha, ficavam a olhar para mim como se fosse extraterrestre ou estivesse a mentir! Não ligo mesmo nada! Já em relação à leitura, não dispenso! Vício mesmo. Enquanto espero pelo autocarro ou dentro do mesmo (desde que sentada), estou sempre de livro aberto. E antes de adormecer, não dispenso uma leitura.
Beijinhos
Inês

ABS disse...

Passo cada vez mais tempo com o telemóvel desligado ou em silêncio. E o mundo não acabou.

Acho que vou reforçar esta tendência ainda mais.
:))

T disse...

Mas vais atendendo os amigos Azinho:)