29 de outubro de 2008

O alto de Santa Catarina

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O alto de Santa Catarina é um destes sítios de Lisboa, que, a dois passos da maior animação citadina, parecem adormecer na paz dum silêncio enorme. No terreiro, quatro palmeiras, pouco mais. Mas a vista embora limitada, é interessante.
Na frente desenrola-se o panorama da margem fronteira, com Palmela, a Arrábida, as terras avermelhadas do Alfeite, Cacilhas, Porto Brandão, a barra, areais da Trafaria, o porto coalhado de barcos. À direita as casas sobem a colina até atingir os altos da Estrela, de que se vêem as torres da basílica. Em baixo, até à borda da água, é um amontoado de fábricas, armazéns, oficinas com chaminé resfolegando, nuvens de fumo, comboios e carros eléctricos que deslizam nos trilhos, tudo debruado ao fundo por uma verdadeira floresta de mastros. À esquerda avista-se a frontaria da pequena Igreja das Chagas, enquanto aos nossos pés a estátua de Sá da Bandeira ocupa um largo marginal.
Desde o século XVIII que este terreiro, situado no monte antigamente conhecido pelo Monte do Pico ou de Belveder, é afamado como miradoiro e retiro de observadores lunáticos de onde o prolóquio popular de "ver navios no Alto de Santa Catarina.


Texto de Raul Proença, em O Guia de Portugal- Lisboa e Arredores, 1924

4 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Estou emocionada. Um dos jardins (outro fica em São Paulo, na Praça D.Luís I) da minha infância onde adorava rebolar-me na relva, dada a inclinação. E parecia enorme na altura. Passei lá noutro dia: não me lembrava que fosse tão pequeno este jardim, minúsculo aos meus olhos de hoje, passados 40 anos.
Abreijos

Paulo Lopes disse...

Bela ideia esta de trazer aqui o jardim de Santa Catarina e o seu gigante Adamastor.

Curiosamente poderia fazer minhas as palavras da Anamar, nos mais pequenos detalhes inclusive os anos que se passaram.

Ainda hoje mantenho residência próxima e periodicamente procuro a esplanada agora existente no local. Sinto uma atracção por esta zona provavelmente pelas recordações de infância que me devolve.
As alterações na paisagem não são muito evidentes, tanto quanto a memória alcança apenas reparo na diminuição do tráfego fluvial.

Foi deste mirador que no pretérito ano de 1980(?) esperei pelo levantar do nevoeiro para conseguir ver o célebre "Tollan" virado de casco para o ar. É caso para perguntar: alguém se lembra?

T disse...

Eu lembro-me. Gostava muito de ter uma fotografia do Tollan aqui no Dias. Alguém arranja?

Anónimo disse...

Penso que, para muitos, esta será uma das mais belas vistas da cidade.
Também fui "googlar" a expressão de mirar o rio deste local, tendo confirmado que o "ficar a ver navios" significa "não obter o que se deseja; sofrer uma decepção".
Acontece que, quando nos encontramos no local, o sentido não corresponde ao enunciado: como se pode ficar decepcionado num local como este?
Outro sítio de eleição - o miradouro de Santa Luzia - encontrava-se, não há muito, votado a um certo abandono, desconheço se entretanto já terá sido sujeito ao tratamento que merece. Para bem de todos, esperamos que sim.