13 de agosto de 2008

Texto enviado pela Lúcia


As coisas antes da imaginação não são o que as coisas são. E depois também não

“[…] Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer. Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador…
A minha mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “É assim a vida.”
Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.

A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser um brincador.
Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta.
Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta.
Na minha sepultura, vão escrever: ‘Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.’

[…] ‘Por que não experimentas ver as coisas como elas não são?’, propõe, por seu lado, o Brincador ao Rapaz.
‘E como é que faço isso?’, questiona o Rapaz.
‘Basta imaginar. As coisas antes da imaginação não são o que as coisas são. E depois também não.’ “


O Brincador, de Álvaro Magalhães.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, enganei-me talvez :)