8 de abril de 2008

A ofensiva (Parte I)

(Uma ficção de Jerónimo de Sousa)

Era grande o burburinho na sala. Ministros impecavelmente vestidos, de gravatas às cores a condizer com os botões de punho, e até quem sabe com os boxers (porque isso das cuecas são coisas do pré-choque tecnológico), riam despreocupadamente enquanto Silva Pereira fazia a ronda com seu portátil de 150 €, mostrando à vez, os resultados das mais recentes malfeitorias governamentais.
- ahahahahahahahahaha... ó Pedro, essa da tipa que ia morrendo a caminho do hospital dá cabo de mim... ahahahahahaahahaha... Bem que o Campos queria fechar mais hospitais... ahahahahaahahaha... – disse Severiano, enquanto tirava de uma sacola negra com uns enfeites prateados mais uns nomes de jovens militares, recém-pais, para enviar para o Afeganistão.
- Ó Severiano, tu não me digas nada... havias de ver o que me contou o Rui Pereira... ahahahahahahaah O gajo está a pensar em mandar a polícia ter tolerância zero nas estradas que levam as pessoas até às urgências mais distantes... ahahahahahahahahaha... Não é brilhante? A malta à rasca para ir ver a dor de barriga e ainda por cima leva com multa.... ahahahahahahahah.... com sorte ainda se borram todos antes de chegarem ao hospital.... ahahahahahaahha...
Silva Pereira continuava o seu périplo. Agora viam uns trabalhadores a serem despedidos de uma fábrica têxtil. Silva Pereira delirava:
- óóóóóóóóóó... tadinhos.... óóóóóóóóóóóó.... vão passar fominha... vão?.... tadinhos... óóóóóóó.... ahahahahahahahhaha...
- É pá... ó Teixeira... e se a gente só pagasse o subsídio de desemprego a quem conseguir provar que realmente passa fome... poupávamos um bocado.... Olha-me para aqueles balofos.... ehehehehe – sugeriu Vieira da Silva - aquela malta aguenta muito tempo sem comer...
- Agora não posso. Estou a fazer contas aqui sobre um imposto novo – respondeu Teixeira dos Santos.
- Imposto Novo?! Já me estás a lixar...
- Calma, Vieira. Não é bem um imposto. É uma taxa. Sabes aquela história do poluidor-pagador? – inquiriu Teixeira dos Santos
- Sim – respondeu Vieira, sem conseguir disfarçar um misto de preocupação e curiosidade.
- Vamos taxar os portugueses que se peidem na rua e que saiam de casa com mau hálito, assim como todos aqueles que falem demasiado alto na rua... O que te parece?
- Bolas, Teixeira... Não há défice que te resista, homem... ahahaahhaahahahah.... olha aquele a dizer que tem três filhos na escola e que a mulher está desempregada há seis anos.... ahahahahhahaha..... tadinho... vai passar fominha... tadinho.... eheheheheheheh
As gargalhadas ecoavam por todo o edifício. Os funcionários já nem estranhavam. Afinal, era assim há já 3 anos. Sempre que o Conselho de Ministros se reunia havia galhofa da boa.

(continua)

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