tpp (trabalho para pensar): porque se condena a reacção e não a provocação.

do rio que tudo arrasta se diz que é violento,
mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem
(brecht, by heart)

nestes últimos dias toda a gente (excepção feita aos franceses) critica o zidane pela sua reacção a materazzi.
mais uma vez, sinto-me isolado na minha posição de 'faltou-lhe foi o pontapé nos tomates'

ontem, finalmente, zinade falou sobre o assunto.
pediu desculpa por ter dado a cabeçada em frente de crianças e educadores, mas não lamentou a cabeçada 'em si'.

fez bem. digo eu.

questionado sobre a interpretação feita por uns técnicos de linguagem labial, segundo os quais materazzi teria dito 'toda a gente sabe que és filho de uma puta terrorista', zinade apenas respondeu: 'bon. oui'

a selecção francesa já tinha sido atacada por toda a direita ultramontana europeia, a começar por le pen, que afirmava no começo do campeonato que uma selecção de pretos e árabes jamais podia representar bem a frança e a acabar num proeminente político italiano que afirmou que 'a itália ganhou a um grupo de pretos e islamistas'.
se a isto juntarmos o que materazzi confirmou como tendo sido os seus insultos iguais 'centenas de insultos normais num jogo de futebol', temos uma amostra do ambiente nos jogos de futebol onde joguem pretos, mulatos, islamistas e outros seres merecedores de menor consideração.

o que eu acho que devemos pensar, é sobre o facto de não haver penalizações sobre os 'insultadores'. ainda por cima confessos e públicos.

é mais violento dar uma cabeçada do que chamar filho de uma puta terrorista?
porquê?
porque a cabeçada se vê a dar e o insulto apenas se adivinha?

faz lembrar os que não comem carne porque não suportam imaginar o animal a ser morto no matadouro.. e comem peixe que morre porque o ar o mata (seria o que mesmo que no matadouro se matassem os animais por afogamento... que parece ser uma violência para os seus defensores).
a diferença está em que a morte do peixe é silenciosa.
mesmo sendo muito mais lenta e agoniante.


é como os insultos nos estádios.

quando 40 000 adeptos ululam sempre que um jogador preto toca na bola, somos capazes de sorrir condescendentes ao mesmo tempo que dizemos baixinho que 'aquilo era evitável';

se esse mesmo preto levantar o dedo num gesto de 'up yours', achamos que deve ser expulso por mau comportamento.