A Criança: Jean Pirre Dardenne e Jean-Luc Dardenne

Abençoada a hora em que me enganei no cinema onde queria ir ver O Mundo Novo, que não estava lá, e acabei por ver este filme. Infelizmente os nossos críticos estão mais interessados em impingir-nos filmes de grandes orçamentos do que grandes pérolas como esta. Parvos somos os que ainda nos deixamos ir em conversas de feirantes.
L'Enfant, tal como Badlands e a Mouchette de Robert Bresson, de que muito me lembrei, é um filme sobre deserdados. Os três são filmes sóbrios e secos como as vidas dos oersonagens, filmes duros, sem rodriguinhos de câmara e de encenações. Filmes duros de ver.
Sendo Mouchette de 1967 e L'Enfant de 2005, é caso para perguntar se há progresso, tal como o entendiam os iluministas, na nossa sociedade ou apenas evolução tecnológica. À miséria humana que atravessa os três filmes acresce nos dois mais recentes a frustração e a revolta face ao "progresso" alheio. Se em Mouchette ainda há conformismo e renúncia, nos outros dois há impotência e revolta.
Se em Mouchette já não há esperança, mesmo assim, no pântano de L'Enfant ainda acaba por conseguir florir a desesperada flor da ternura.
Em suma, a ver e rever, porque é mesmo muito bom e tem uma interpretação assombrosa de Jérémie Renier que compõe um confuso e perdido Bruno como uma segunda pele.
Uma Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2005 mais que merecida. Assim fossem todos os outros prémios.