marcel khalife
é o nome maior da música libanesa.
virtuoso do alaúde numa terra onde o alaúde é rei.
marcel khalife tem 30 anos de carreira a lutar pela liberdade do seu país e pela liberdade da sua região.
a lutar contra a ocupação do líbano e contra a ocupação da palestina, mas nunca isolada da luta dos outros povos oprimidos noutras partes do mundo.
juntamente com o poeta sírio adonis (um dos maiores poetas àrabes contemporãneos) tem lutado contra o fundamentalismo religioso àrabe e o que consideram ser as interpretações abusivas do corão.
numa sequência disso, foi julgado por blásfémia, por ter num dos seus álbuns uma canção chamada 'pai, eu sou yusuf', baseada num poema do poeta palestiniano mahmoud darwish, em que compara a opressão dos palestinianos nos países árabes com o episódio bíblico de josé a ser maltratado pelos seus irmãos. como a história também aparece no corão, as autoridades sunitas consideraram isso uma blasfémia, já que é interdita qualquer citação do corão para outros fins ou noutros contextos que não sejam os da simples recitação do corão ou da oração ao seu deus.
a coisa não esteve fácil para marcel khalife, que acabou por ser ilibado pelos tribunais libaneses do crime de blásfémia depois de ter levantado em sua defesa todas as cabeças com um mínimo de cérebro naquela zona do mundo.
mas falemos de música e não de fait-divers de eclesiáticos reacionários e ultramontanos.
marcel khalife tem para o alaúde árabe e para a musica árabe a mesma importância que paredes para a guitarra e a música portuguesa.
não só é um virtuoso, como tem conduzido o instrumento para caminhos que ele nunca tinha percorrido antes.
talvez por ter tido uma educação católica num país predominantemente àrabe culturalmente, a sua música sofre a influência dos dois mundos:
o da sua educação, e o da sociedade que o rodeia (estranhamente só tenho falado de 'cristãos' árabes nesta semana de música.... árabe).
talvez também o facto de ser cristão numa terra de muçulmanos o tenha feito sentir mais o que é ser minoria e lutar em favor delas.
são míticos os seus concertos na beirute arrasada por bombardeamentos durante a guerra civil.
em que insistia em fazer concertos dirigidos às duas partes em conflito enquanto as bombas caiam.
tal como a nossa amal, aqui ontem falada, estamos a falar de gente com ideias e tomates para as defender.
para que saibam do que estou a falar, aqui podem 'ouver' 4 excertos do seu último trabalho (ainda sem nome)... e aqui ouvir dezenas (!) de trabalhos seus e do seu filho, rami khalife (sim.. talvez fale dele na série pais&filhos). um muito mais que excelente compositor e pianista
escutem e gozem.
chá verde a acompanhar o som e frio saberá bem.
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