11 de novembro de 2005

Jorge Nunes, Livros antigos

Hoje cheirou-me a manhã, citando a Joana do Sombra Clara.
E resolvi voltar à saga da procura dos livros perdidos, indo ao Sr Nunes.
Milagre, a loja estava aberta!
Entrei, deu-me aquela tontura de ver muito livro que apetece, duma vez só.
Olhei à volta e não vi quem procurava. Perguntei então pelo ausente.

"O sr Nunes morreu em Janeiro".

Fiquei assim meia zonza. Nunca imaginei que o Sr Nunes desaparecesse. Era das referências imutáveis que tinha. Depois fui perguntando mais coisas. O senhor da loja explicou que era filho dele. De facto, são parecidos. E eu acabei a contar-lhe as minhas histórias conjuntas com o pai . Os livros que eu lhe pedi. Os livros que ele me arranjou. O sistema de comunicação que inventou. Punha os livros que eu pedia na montra, para eu saber que tinham chegado. Os jornais do Repórter X que eu lhe pedi e ele desencantou não sei onde. O acolhimento caloroso e emocionado quando nos encontravámos numa qualquer feira do livro usado ou antigo, como lhes queiram chamar. Era um homem de poucas falas. Demorou a estabelecer relacionamento comigo. Só o vi sorrir-me, quando percebeu que eu de facto gostava de ler. Quando não aprovava as minhas compras, franzia-me o sobrolho por cima dos óculos. Contou-me o filho, que ele fazia o mesmo a alguns clientes. Há mais de quinze anos que me vendia livros.

A loja continua na mesma. Cheia de livros apetitosos, a preços módicos. Comprei as Memórias do Raul Brandão, o Rei Junot, biografias do Raul Brandão e José Rodrigues Migueís, mais alguns livros do JRM e do Aquilino Ribeiro um delicioso livro, em que ele reescreve o Cavaleiro de Oliveira. Coisas boas e bonitas. Algumas vieram duma arca.

Recomento definitivamente a loja. É na Rua de S Domingos de Benfica, mesmo junto à Estrada de Benfica. A rua é pequeníssima, não sei o número. Muito perto do Jardim Zoológico.

E recomendo porque a loja para mim ainda é o Sr Nunes. Enquanto estiver aberta, ele definitivamente não morreu. E é isso.

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