12 de novembro de 2005

Hymnen, Amaro e Virgem

Após um inenarrável crime, o do Padre Amaro (execrável até mais não...), andei-me em romaria aos Hinos do Stockhausen na Gulbenkian.
Pelo caminho, deparei-me com a outra romaria, a da virgem. Remember? Já só vi a cauda da procissão, carinhosamente escoltada por uma trupe de almeidas e camiões do lixo repondo a ordem. Posso estar enganado, mas ia jurar que vi um sem-abrigo a ser engolido na voracidade da limpeza... adiante!
Stockhausen, papa da vanguarda musical, trajava camisa e calças brancas e camisola laranja; sotaqueava retintamente à alemã e serviu-nos uma das suas mirabolâncias tão "ereméticas" quanto inacreditáveis.

BULA, perdão, instruções do compositor:

  1. fechar os olhos durante toda a peça;
  2. rodar a cabeça para todos os lados consecutivamente;
  3. estacionar em algumas posições, a fim de fruir toda a espacialidade da obra.

A dada altura, entrei num quase-transe, flutuando entre o consciente e o resto; perdi a noção do tempo: um minuto pareceu-me uma hora e vice-versa.

Escusado será dizer que a ascese produziu o seu sortilégio: depois do intervalo, houve umas quantas desistências, incluindo uma ou outra eminência parda do meio musical erudito. Mas a música é mesmo assim: a mais abstracta das artes pode retirar-nos qualquer base de apoio quando é explorada duma forma radicalmente diferente.

Quanto a mim, continuo, apesar de tudo, a preferir um beco sem saída desconhecido a uma avenida a saber a gasto...

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