27 de maio de 2005

do modo como os de fajão ceifavam o centeio

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Antigamente os de Fajão não conheciam a foice. Para ceifar o centeio eram precisos quatro homens: um levava um cepo, outro dobrava o centeio para cima do cepo, o terceiro punha um formão em cima do centeio, e o quarto batia com um maço no formão.
Quando andavam a ceifar, calhou passar por ali um almocreve. O almocreve viu aquilo e vai aqui assim:
Quanto dão vocês a quem vos traz um bichinho que ceifa isso tudo em pouco tempo?
-Trinta mil reis e uma carga de presuntos.
À volta, o almocreve trouxe-lhes um foicinho.

Ao outro dia eles foram ceifar o centeio, mas como não tinham prática, o primeiro que experimentou o 'bichinho' fez logo um golpe na mão esquerda. 'Ai o bichinho que já me mordeu!'. Atirou com o foicinho para o meio da seara e fugiram todos.
No dia seguinte voltaram lá, armados de paus. 'Vamos lá a ver que tal está o bicho'.
Lá estava o foicinho no mesmo sítio, mas com a orvalhada da noite tinha algumas malhas de ferrugem.
'Olhem como ele está! Até éstá malhado!...'
Vai um e dá-lhe uma paulada na ponta, que estava virada para cima. O foicinho fez de bilharda e foi encravalitar-se no pescoço de um dos homens. Então outro, que era compadre dele, acudiu a tirar o foicinho, mas com tanta infelicidade que ceifou a cabeça ao homem. Apanhou de repente a cabeça e colocou-lha em cima; como estava quente, colou logo, e o homem começou a andar, mas a cara ficou virada para as costas, de modo que o compadre dizia: Ó compadre, eu não sei se vais, se vens'.


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(texto e imagem de augusto nunes pereira)

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