Trazei-me um São Gonçalinho;
Se não puderes com um grande,
Trazei-me um mais pequenino.
hoje é dia de são conçalinho em aveiro
para quem não é de aveiro ou não lhe conhece as tradições, este s. goncalinho (o tal de guimarães feito eremita em amarante) é equiparável ao santo antónio para os lisboetas ou o são joão para outras partes do país.
é o santo porreiro.
é o santo da beira-mar ( e do beira-mar também, cuja equipa de futebol jamais falha o pedido de proteção no fim de semana da festa)
é o santo a quem se pede tudo a troca de uma promessa paga em dúzias de cavacas atiradas do alto da sua capela octogonal em dia de festa.
é o santo das velhas que ainda esperam por casar
é o santo médico generalista
é o santo vingativo (livrem-se de não cumprir uma promessa a são concalinho feita!!!)
no dia 10 de janeiro de cada ano (ou no fim de semana mais próximo desse dia), milhares de pessoas enchem o adro da capela, ali na beira bar, ali perto do mercado, do cais dos marnotos.
muitos milhares da cavacas serão atiradas do alto da capela (60 toneladas este ano, disseram-me) para pagar as graças concedidas.
centenas de pessoas em baixo tentam apanhar o maior número possível de cavacas (evitando apanhá-las com a cabeça que o doce é bem rijo)
na noite da oitava da festa, retirado o santíssimo da capela, arredam-se os bancos.
São Gonçalo
arredai os bancos;
eu quero dançar
uma dança de mancos.
arredados os bancos, feita a bem regada festança dos confrades de s. gonçalinho, começa uma estranha dança em hélice dentro da capela octogonal em que desde a senhora que faz uns outsourcings sexuais até ao respeitável senhor que deixa dívidas espalhadas, tudo é criticado.
e nem as investidas do bispo de aveiro demoveram as gentes desta pagã tradição dentro da igreja (para os não crentes, a retirada do santíssimo de dentro da igreja faz com que esta perca o seu estatuto de 'casa de deus'.
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