23 de maio de 2004

Javeau

As coisas passam-se de modo diferente nos países do Terceiro Mundo. Aí, a proporção dos jovens pode atingir metade da população total e a maior parte deles confronta-se com futuros incertos em economias ainda largamente vassalizadas pelas economias ocidentais. Este sentimento colectivo de abandono é favorável à progressão das ideias ditas integristas no interior das populações juvenis, quer estejamos perante o nacionalismo radical dos países africanos, perante um marxismo puro e duro na América Latina ou, mais significativamente ainda, perante a ortodoxia islâmica, inspirada pelo exemplo iraniano, nos países muçulmanos. A rejeição de numerosos aspectos da vida moderna é um traço comum dos movimentos referidos, que com frequência opõem ao universalismo ocidental reivindicações de tipo identitário ou comunitário. Estas reivindicações, transpostas para o interior dos países que "acolheram" um número importante de imigrados de certos países do Terceiro Mundo, são acentuadas pela existência de um modo de estratificação dita étnica, opondo indígenas e alógenos, numa relação que vai da subordinação à exclusão pura e simples, retomando esta por sua conta doutrinas racistas insustentáveis (como é o caso do Front National em França). Este fenómeno não é dissociável da restante ameaça de pauperização que pesa sobre as camadas menos favorecidas das populações "nacionais". A atitude racista, como se sabe, é muitas vezes uma atitude característica de "pequenos brancos", embora não seja exclusivo destes, uma vez que infelizmente certos intelectuais contribuem para a propagação desse "cancro de espírito".

Claude Javeau em Lições de Sociologia

(Bold algo ingénuo e de minha responsabilidade.)

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