Antes de mais, saúdo o Pedro, o Paulo (que é o mesmo Gasel, acertei?), a Lau e a Maria, e dou-lhes as minhas tímidas boas-vindas. A seguir, passo, envergonhado, a informar a todos que o governo Lula está para cometer um ato de profunda indelicadeza para com Portugal: nomear para a nossa embaixada em Lisboa o senhor Paes de Andrade. Olhem, já nem sei bem se a ofensa é para com Portugal, que terá de o aturar, ou se é para conosco, os brasileiros que passamos o carão de ver esse sujeito nos representar junto a uma nação amiga.
O senhor Paes de Andrade foi presidente da Câmara dos Deputados durante os infaustos anos do governo de José Sarney, nos oitenta. José Sarney que acumula o recorde de ser, a um tempo, mau presidente e mau romancista, apesar de membro da Academia Brasileira de Letras: seu livro Marimbondos de Fogo é realmente de tacar fogo e atirar longe. Enfim, cada país tem o Vaclav Havel que merece. Ora, o Sarney tomou posse porque o presidente eleito, Tancredo Neves, morreu antes de assumir seu cargo, e ele Sarney era o vice. Deu-se então que o país ficou sem vice presidente, e, a cada vez que Sarney se ausentasse, seria substituído pelo Presidente da Câmara: o digníssimo Paes de Andrade. Na primeira oportunidade, o indigitado deputado encheu o avião presidencial com a sua camarilha, digo, seus apaniguados, digo ainda, seus assessores, e foi-se na maior alegria a Mombaça, sua cidade natal. Que não está nos mapas genéricos do Brasil que se podem achar no estrangeiro, só nos nossos - e não a procuramos amiúde. De lá despachou. Mombaça, por uns dias, foi a capital do Brasil. E lá também se auto-homenageou: inaugurou escola, pracinha e coreto com seu nome, orgulho da raça mombacense.
Pois vejam: agora que soube que lhe tocará a (para ele fácil) tarefa de nos deslustrar, mandou que se imprimisse um livro (pago de seu bolso, a bem da verdade), quinhentos exemplares, o qual imortaliza sua sabatina no senado. O título do opúsculo: A Consagração de Paes de Andrade.
Amigos: riam a bom rir do palhaço que para aí vai. Nós, aquém mar, choraremos.
* * *
Agora, a seguir, deixem-me dizer que aqui no Brasil ainda se usa dizer "brotoejas" para borbulhas (que chamamos bolhas) na pele. Minha filha, branca branquíssima, sempre as tem no calor. Digo mais, o óbvio: que quem quer fugir do calor não deve vir para cá: estamos no auge do inverno, e lá fora o sol ruge em confortáveis 27 Celsius. Digo ainda que não sei quem são os quatro, cinco e sete fora do jogo de truco, e que eu, como muitos brasileiros da minha provecta idade, criei-me lendo o Monteiro Lobato, que não sei se circula por aí (devia circular), inventor do Sítio do Picapau Amarelo. Finalmente, naperon soa-me a nome de remédio desfazedor de catarro; prefiro chamar os naperons de paninhos mesmo, e continuar a usá-los, para desespero da minha mulher, para enxugar as mãos quando saio do banheiro, ignorando com alegria a toalha que lá está.
Sem comentários:
Enviar um comentário