4 de maio de 2011

Viajar através de artes e ofícios



Faltam muitas vezes motivos de escrita, inspiração ou ideias que nos surjam como aliciantes.
Ainda há pouco, houve na família uma jovem candidata a um concurso de escrita criativa, dinamizado por um escritor da nossa praça e comentávamos semanalmente o facto de serem os desafios mais ou menos aliciantes. Não por se aspirar, a título pessoal, à inovação, mas por dar comigo a pensar que os cronistas em jornais diários devem sentir mais do que ninguém esse dilema: sobre o que escrever hoje? O que deixar na página em branco? E ao saltarmos directamente para a página da crónica diária, facilmente concluímos ter sido mais ou menos apelativa a escolha a do dia.
Tendo acabado de abrir o jornal electrónico recebido semanalmente, os olhos prenderam-se numa lista designada por profissões antigas  que, segundo a publicação, em alguns recantos do globo, teimam – ainda bem para nós e para a saúde da respectiva memória colectiva – em resistir. Do conjunto razoável, optei por duas que trazem agradáveis lembranças.
Nos idos anos 70, sendo de último grito e sobretudo em meio urbano o uso de socas – algumas perigosas e inestéticas, com plataformas a fazer inveja à própria Carmen Miranda e a conferir uma altura de fazer inveja a qualquer manequim - percorri com entusiasmo o mercado de Viana do Castelo. Detentora de um permanente fascínio por feiras e mercados – sem qualquer conotação partidária ou algum intuito para lá da mera curiosidade associado a estas pequenas peregrinações – comprei de imediato um par de bonitas socas artesanais. Sem a existência dos inúmeros sacos de plástico que hoje proliferam, transportava-as à vista, tendo ouvido o engraçado comentário, num colorido sotaque do Alto Minho «ó santinha, vai roçar mato?», na altura pensei que as modas urbanas eram injustamente incompreendidas pelas gentes nortenhas.



Quanto à segunda profissão escolhida, a de empalhador, recordo ter decidido há muito tempo recuperar o assento da cadeira de uma antiga mobília de quarto alentejana, daquelas lindíssimas, em fundo colorido e decoradas com alegres ramos de flores, herdada da minha mãe e parece que, na sua infância, prémio de um concurso do jornal «O Século». Por incrível que pareça, na área de residência não se encontrava alguém que conferisse à cadeira o aspecto de origem. Penso que pelo Alentejo ainda existirá a profissão pois, segundo parece, este tipo de mobiliário sobreviveu ao tempo e aos armazéns normalizados que nos tornam, de certo modo, um pouco clones.
Com as imagens, viajei em recordações através destes antigos ofícios que – espera-se – não venham a desaparecer em definitivo.

Imagens: L'Intern@ute Magazine

4 comentários:

Branca disse...

...mas tristemente acho que acabarão por desaparecer, sim...

teresa disse...

Também me parece, Branca, basta ver a dificuldade que temos quando em casa se precisa de um simples trabalho em carpintaria. Situações pontuais do quotidiano já acenam com o tal fim anunciado...

T disse...

Por acaso vi ali um senhor que empalha cadeiras na Edith Cavell.

teresa disse...

Se vier a ser preciso, peço-te os detalhes :)