Ainda no outro dia, vi na RTP Memória um programa antigo do Prof. José Hermano Saraiva (que eu admiro e considero uma das mais notáveis figuras do nosso país), em que ele falava sobre a Campanha Nacional de Educação de Adultos. É pena que hoje não se pense na educação (de adultos ou jovens) e sim, em novelas, programas da treta, dinheiro no bolso e afins...
A ilustração é primorosa ao colocar a telefonia num modesto ambiente rural, num abastado ambiente urbano, e num ambiente mais neutro que pode ser parte de uma casa de estudante ou de casal jovem. Nesta altura começava o nivelamento por baixo de uma sociedade austera em que se davam os primeiros passos para o controlo do próprio desejo e para a criação da necessidade de consumo. Era o tempo dos programas patrocinados: Os Parodiantes de Lisboa, os Discos Pedidos, as intermináveis tardes de Fado, o Serão para Trabalhadores... Apareceram depois os rádios de transístores, pequenos e portáteis, com eles se ouvia o futebol mesmo quando se estava no estádio a olhar para os jogadores no relvado. Com eles se ouvia a missa e as transmissões de Fátima. Caros que eram para um trabalhador normal, alguns destes rádios tinham sido prenda de grandes empresas pela altura do Natal; nesse tempo não havia 13º Mês e os empregadores ofereciam uma garrafa de Vinho do Porto. Os empregados do comércio e do Estado eram autorizados a mendigar porta a porta como os almeidas, nome dado aos cantoneiros de limpeza e recolha de lixo, ou a pedir com uma caixinha de esmolas, decorada com papel de prenda de Natal, colocada nos locais de atendimento público. Com esses rádios na mão, eram enviados para as grandes manifestações de apoio ao regime, os trabalhadores e funcionários públicos nesse dia dispensados por conveniência de serviço. Recomendavam-lhes que os mantivessem no volume máximo e sintonizados nas emissoras que transmitiam em directo essas manifestações, o ruído da rua tornava-se ensurdecedor e aumentava em muito o número de pessoas presentes. Como sabemos hoje em dia a televisão superlativou o procedimento e faz isto tudo na perfeição.
5 comentários:
Ainda no outro dia, vi na RTP Memória um programa antigo do Prof. José Hermano Saraiva (que eu admiro e considero uma das mais notáveis figuras do nosso país), em que ele falava sobre a Campanha Nacional de Educação de Adultos. É pena que hoje não se pense na educação (de adultos ou jovens) e sim, em novelas, programas da treta, dinheiro no bolso e afins...
Infelizmente a televisão pública não se preocupa em educar.
A ilustração é primorosa ao colocar a telefonia num modesto ambiente rural, num abastado ambiente urbano, e num ambiente mais neutro que pode ser parte de uma casa de estudante ou de casal jovem.
Nesta altura começava o nivelamento por baixo de uma sociedade austera em que se davam os primeiros passos para o controlo do próprio desejo e para a criação da necessidade de consumo. Era o tempo dos programas patrocinados: Os Parodiantes de Lisboa, os Discos Pedidos, as intermináveis tardes de Fado, o Serão para Trabalhadores...
Apareceram depois os rádios de transístores, pequenos e portáteis, com eles se ouvia o futebol mesmo quando se estava no estádio a olhar para os jogadores no relvado. Com eles se ouvia a missa e as transmissões de Fátima. Caros que eram para um trabalhador normal, alguns destes rádios tinham sido prenda de grandes empresas pela altura do Natal; nesse tempo não havia 13º Mês e os empregadores ofereciam uma garrafa de Vinho do Porto. Os empregados do comércio e do Estado eram autorizados a mendigar porta a porta como os almeidas, nome dado aos cantoneiros de limpeza e recolha de lixo, ou a pedir com uma caixinha de esmolas, decorada com papel de prenda de Natal, colocada nos locais de atendimento público.
Com esses rádios na mão, eram enviados para as grandes manifestações de apoio ao regime, os trabalhadores e funcionários públicos nesse dia dispensados por conveniência de serviço. Recomendavam-lhes que os mantivessem no volume máximo e sintonizados nas emissoras que transmitiam em directo essas manifestações, o ruído da rua tornava-se ensurdecedor e aumentava em muito o número de pessoas presentes.
Como sabemos hoje em dia a televisão superlativou o procedimento e faz isto tudo na perfeição.
Corroboro inteiramente com a opinião da T.
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