14 de abril de 2011

Textos, imagens, memórias...

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A terminar a leitura de D’este viver aqui neste papel descripto, cartas de guerra enviadas por António Lobo Antunes do interior de Angola à sua jovem mulher, cruzam-se caminhos: o terem-se conhecido na Praia das Maçãs, local a trazer gratas lembranças e o facto de, por mero acaso, ter recentemente comprado um livro com memórias fotográficas do concelho de Sintra, com destaque para esta praia aqui tão perto.
Leio avidamente o texto de Lobo Antunes, não como devassa da intimidade, mas na qualidade de documento histórico de uma guerra absurda que, a par da realidade documental ultramarina, acaba por trazer por arrasto instantâneos da nossa varanda sobre o mar.
Saltando para o livro de memórias fotográficas, é interessante descobrir edifícios de uma existência até há pouco desconhecida.
A praia, baptizada devido ao rio que a cruza, foi também cenário de fins de tarde onde, em casa de uma amiga e sentada sobre um telhado fronteiro ao mar, ia pondo em dia a leitura. O meu amigo L , sempre fascinado por fotografia deixou-me, como memória, uma imagem em que mergulho nos livros empoleirada nas telhas antigas, mas seguras. Ele que também teve de participar nessa mesma guerra, precisamente no Luso, uma das paragens de onde estas cartas são enviadas.
Das cartas de guerra, uma breve passagem: «O que me faz falta é o mar, e, por isso, ele aparece tanto nesta pobre e ridícula história que escrevo, o mar do litoral, as praias[…]. A praia das Maçãs visita-me muitas vezes, a Várzea de Colares, a estrada a partir de Sintra, o frio especial de depois das 6 horas, a língua estreita da praia Grande. Outra coisa que me lembra muito é a estrada Marginal à noite, com a sua feira de luzes, Cascais, a baía e os barcos».

imagem : Nuno e Miguel Gaspar, Um passeio de Cintra até ao mar a apresentar o Hotel Royal Belle-Vue, Praia das Maçãs. O hotel ardeu em 1920, as ruínas foram compradas por D. José de Mascarenhas. Hoje ainda existe a casa aqui construída, pertencente a António Vasão Trindade

6 comentários:

Carlos Caria disse...

Bonitas imagens escritas, fez-me avivar a minha memória para os inícios dos anos 60 quando passava 15 dias férias de verão numa colónia da Praia das Maçãs, aliás havia muitas colónias de diversas empresas espalhadas pela zona, Praia das Maçãs, Almoçageme, Praia Grande, etc etc.
Naquela época depois de um banho de praia, as batatas fritas e as bolas de Berlim, mesmo que fossem com areia tinham outro sabor.
Abraço

teresa disse...

As colónias de férias eram várias, Carlos Caria, não sei se alguma ainda sobrevive... Um dos meus irmãos esteve numa delas, a da Cuf, que localizo pelas imediações, mas já não a consigo situar com precisão, dado sermos crianças na época.
Um abraço.

Anónimo disse...

Tanto a Colónia da Cuf como a Colónia da Shell situam-se na estrada que creio que vai de Almoçageme (não tenho a certeza ser este o início mas lembro-me de ser a localidade mais próxima) e que bifurca no final para a praia grande (à esquerda) e praia das maçãs (à direita).

Ambos edifícios ainda existem, sendo que o da Shell durante algum tempo serviu de abrigo a refugiados do leste. Actualmente não sei. Este não é identificável da estrada pois apenas se vê um grande portão portão branco entre as arvores. Situa-se na descida para a referida bifurcação, antes da igreja. Em frente ao portão há, ou havia, uma pequena estrada não alcatroada, que dava para uma mata onde se costumava fazer piqueniques.

A Colónia da Cuf situa-se antes da da Shell, mais perto de Almoçageme, antes da descida. Edificações de pequena estatura a lembrar a traça da "casa portuguesa". Desconheço a actual função.

Carlos Caria disse...

Eu frequentava a Colónia do Hospital de Santa Maria, mesmo na vila da Praia das Maçãs, e em pequenos passeios condizentes com a idade 7/8 anos, visitavamos outras colónias na zona tal como a do Colégio Valsasina, na colina sobre a Praia Grande.
Abraço
Carlos Caria

carlos disse...

utilizei a colónia de férias da shell e da cp (na estrada para a praia das maças, mesmo em frente ao cruzamento para a praia grande) como local de 'recolhimento' e de 'imersão' para aprendizagem de algumas peças.

um dos fins de semana na da shell foi para ensaiar este 'das neugeborne kindelein' do buxtehude:

http://www.youtube.com/watch?v=L_K66xxNf2s

teresa disse...

Agradeço ao anónimo a localização tão precisa da colónia da Cuf. Parece que a memória reavivou.

Penso que a tradição das colónias de férias está a desaparecer, não na totalidade, mas quase, lembro-me de ver na infância grandes grupos de jovens que as utilizavam, na praia, em uniforme e acompanhados por monitores.

E quanto às referidas pelo carlos, penso que terão dado lugar a um espaço turístico procurado no Verão por gente de outros países, actualmente com um letreiro colorido em fraca imitação Las Vegas, se não estou em erro.