21 de fevereiro de 2011

Os ais ou bocados de nós...

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Um lamento enfeitado de ais magistrais… até a rima se torna irritante, evocativa de refrão pimba… Como fugir ao lamentos e restantes tormentos ouvidos em cada esquina diária e em circunstância vária, quererá isso dizer uma evasão a variadas expressões de descontentamento a um qualquer lamento? O que será, pois, o pessimismo: mera oposição a uma alegria tontinha? Se interpelados, responde-se vai-se andando, mais ou menos (e há pessoas a quem nem se faz a pergunta, para não se ficar hipocondríaca com o rol), por oposição ao anglo-saxónico fine, great, igualmente a suscitar desconfiança por tão eufórico se revelar… Desconfiança, será esse um outro traço banal, nacional? Imaginemo-nos, pois, a lançar um forte brado, qual anúncio publicitário a um spray ambientador: lá do alto, com um traje como qualquer Maria futura von Trapp, de braços no ar e a descer a montanha, mas com uma inovação, a de lançar impropérios durante a descida súbita… Ai as queixas, as lamúrias, as lamentações!!! A semana ainda acabou de se estrear e já custa saltar para o dia de trabalho, a chuva, o ronco hostil do despertador, as pessoas de ar zangado na rua, as confidências públicas e por telemóvel sobre os “bicos de papagaio”, o mês que sobra para lá ordenado, a torrada que se queimou, a conta da electricidade, o passageiro a ler os títulos do tablóide , a vizinha de transporte a comentar com uma colega de escritório o quinto divórcio e a sétima plástica de uma qualquer poucochinha famosa efémera à nossa medida, modestos e pequeninos somos?… O azar, o fado, a marquise que começa deixar cair a estrutura em alumínio, a senhora que foi entrevistada no programa da manhã e não sabia dos irmãos há mais de dez anos, ainda bem que os encontrou , fora os meios-irmãos por esse mundo fora, uma irmã até apareceu entrevistada na cozinha, melenas no ar e roupão acolchoado, a torneira da cozinha a pingar como música de fundo… Aquela apresentadora é uma santa! Salta-se para a moradora do apartamento ao lado que deita cartas e aquilo é um corrupio de gente a entrar e a sair, veja lá que os clientes se amontoam nas escadas, só beatas pelo chão, nem a senhora  da limpeza consegue dar vazão à lixarada que se acumula… E tudo limpinho de impostos, sem recibos sem nada… O que seríamos sem os ais? Decerto faltaria assunto…

Cantiga dos ais

Anaquim,bocados de mim

5 comentários:

Felicidade disse...

Ai.. li o texto todo! Para quando a publicação de um romance? :))

teresa disse...

Palavras de amizade, mas ainda bem que gostaste:)

Maggie disse...

Esses "ais" de que falas, o tal pessimismo é o que nos permite não "estagnar" no contentamento, não nos conformarmos com tudo o que acontece. Esta é a representação do total optimista em Cândido de Voltaire... se todos fôssemos assim, sem os nossos queixumes, como poderíamos crescer e evoluir? Já dizia Einstein que "os pessimistas estão sempre contentes, porque quando o bem acontece ficam felizes, e quando o mal acontece ficam também, pois a sua previsão estava certa" . Bonita reflexão... beijinhos mamy

teresa disse...

Gostei do comentário, miúda, afinal valeu a pena teres lido o Cândido (mother talk):0)

Maggie disse...

claro que valeu, apesar de algumas partes serem secantes e ter preferido mil vezes o Fausto, sempre fico com mais culturaaa :)) e posso justificar melhor o pessimismo portugues não é ? dá jeito xD