3 de fevereiro de 2011

O baú

"As botas muito pequenas. de uma cor dúbia e de sola já gasta, eram ainda, de tudo o que fazia mais impressão. Toda a outra roupa que a mãe guardava no baú castanho, forrado de peluche a esfiapar-se, afligia-me como se não tivesse servido a corpo vivo.  Era a roupa de uma morta, embora essa morta tivesse apenas dois anos. E ainda que o cheiro da roupa não fosse senão o cheiro do baú, para mim- quem sabe se até para os crescidos - aquele cheiro era o perfume misterioso da morte. Porém as botas, de biqueiras rotas, lembravam-me passadas pequeninas, suaves, quase esvoaçantes, como as de uma ave"
 Natércia Freire e desenho de Ofélia Marques
Revista Panorama

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