25 de outubro de 2010

A meia elástica

Está sol e, entre dois autocarros, faço algumas compras. Quando regresso à paragem, sento-me ao pé de outra senhora e aproveito para me organizar. A minha vizinha de banco, toca-me na perna. Diz," também está de meia elástica e com o pé magoado, qual é a sua doença?". Eu digo-lhe o que me aconteceu e ela agarra-me o pé para ver melhor e mostra-me o dela. Parece uma confraria de estranhas intimidades. Entretanto, outra senhora de idade aproveita o ensejo, diagnostica tendinites gravíssimas e enuncia orgulhosamente os seus 85 anos. Diz ela que ninguém lhos dá. Eu e a minha vizinha  entreolhamo-nos com ar de, ai não que não lhos dão, e que chata é a senhora com os seus conselhos e profecias. É assim esta cidade. Pode uma desconhecida de   suave sotaque alentejano  tocar-nos no pé, que não nos espantamos. Lisboa às vezes parece uma Lisboa afável..


8 comentários:

Unknown disse...

Um blog 5*****. Por mero acaso "caí" neste blog. Estou a adorar! Por favor continuem. Obrigada!

Anónimo disse...

E porque não, todos temos pés bem cheirosos...uma cidade...uma aldeia...

Rui.

teresa disse...

Lisboa é, muito mais do que se poderá imaginar, afável. Como tudo (e aqui segue uma banalidade) também revela de modo violento e muitas vezes inesperado a sua outra face... Penso ser essa a característica comum das grandes cidades.
E a Graça tem razão: grande post, T:)

T disse...

Em nome de todos, muito obrigada Graça:) Volte sempre:)

Unknown disse...

T, delicioso este Post. Terno e divertido.
A facilidade com que entabulamos conversa com estranhos pode ser surpreendente.
Tenho um sobrinho de 12 anos que vive na Polónia.
Numa visita a Lisboa, fomos ao Planetário. Como chegámos cedo, ficámos pela, mais ou menos anárquica, «bicha» esperando que as portas da bilheteira abrissem. Escusado será dizer que em pouco tempo já tinha entabulado conversa com a vizinha da frente, acompanhada por um neto irrequieto, sobre horários, filas de espera, crianças em geral, e tudo mais…
Mais tarde o meu sobrinho acabou por me perguntar: «Tia, tu és amiga daquela senhora?», «Qual senhora, M.?», «A que estava à porta». «Não, foi simplesmente uma senhora que tal como nós estava á espera, e por isso começamos a conversar.» Olhou-me em silêncio com ar de descrédito. «Na Polónia isso não acontece, é?», perguntei. «Naaaaaaaaaão! As pessoas só se falam quando são amigas. As pessoas nunca falam umas com as outras sem se conhecerem, …»… «Não, Tia! Não, não tem a ver com crianças a falar com estranhos, são os adultos que não conversam, nem olham umas para as outras quando estão nas filas, nem nos autocarros…»
Pois é, apesar de tudo prefiro a tagarelice dos estranhos… ou não fosse eu Portuguesa.

T disse...

A Graça falava do blogue:)

T disse...

Mar, também sou assim. Os meus amigos queixam-se muito dessa minha faceta:)

nuno medon disse...

olá! Não imaginava Lisboa assim, mas é bom que existam pessoas que nos cumprimentem, que metam conversa, que nos perguntam o que nos aconteceu ou que peçam uma simples informação. Eu sou do Porto e aqui existem pessoas que metem conversa por tudo e por nada e existe quem se assuste quando eu me aproximo ( e ando sempre bem arranjado ) para perguntar onde é uma simples rua. Por vezes, olham-me de alto a baixo, a pensar que os quero assaltar....lol e não sou nenhum malfeitor. Eu prefiro aquelas pessoas que abrem a boca e que são simpáticas. beijos e as melhoras