8 de agosto de 2010
O taxista viúvo
Entro esbaforida e carregada de tralhas, cumprimento e digo a morada para onde quero ir. O ambiente é fresco, graças à gentileza do ar condicionado e a ansiedade quebra aos poucos. Não sei quem inicia a conversa, raramente isso não acontece, mas o taxista começa a contar-me a sua vida. Viúvo há alguns anos, gostava de ter uma companheira, não para sexo, para isso já não, diz ele veemente, mas para dar passeios e limpar a casa um do outro em conjunto. É tão bom ter companhia, acrescenta. Mas não consigo arranjar ninguém. Eu já no fim do percurso e meia à pressa,, digo-lhe com todo o carinho de que sou capaz, mas olhe, há tantas senhoras também sozinhas. Certamente arranjará alguém de quem goste. Ele triste, abana a cabeça. Não há quem me queira fazer companhia. E ficamos assim, chegados às ruas de Arroios.
Foto de Armando Serôdio, 1963, AML
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5 comentários:
A T costuma ter histórias mais alegres com táxis!
Infelizmente a "doença" do taxista tornou-se uma epidemia. Parece que as pessoas estão a perder o prazer de fazer companhia "só por fazer". É pena! Não sabem o que perdem, até ao dia em que se tornem "taxistas viúvos".
Pois costumo, mas este foi o meu último taxista. E impressionou-me.
Mais uma bonita história em táxis, incrível como elas surgem:)
O que me entristece nesta história não é a solidão, mas sim a resignação a ela demonstrada pelo taxista. Entristece-me e assusta-me.
A solidão é um (apenas MAIS um) dos grandes dramas das Sociedades ditas modernas.
Há quem minimize esta realidade, só que não estamos perante uma situação de somenos...
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