7 de julho de 2010
Matilde Rosa Araújo (1921-2010)
(retrato da autoria de Constança Lucas)
Poderá não ser muito conhecida além fronteiras, poderá não ter conquistado popularidade entre leitores adultos (exceptuando os ligados ao ensino da miudagem) apesar de lhes ter deixado alguns títulos, mas acontece que a vida não se limita a mediatismos e anonimatos, o que terá levado a que fosse a escritora aqui evocada. Matilde Rosa Araújo escreveu sobretudo para um público infanto-juvenil. Por isso mesmo, ainda em tempos relativamente recentes, continuava a participar nos encontros de literatura promovidos pela Fundação Gulbenkian dedicados à literatura para estas faixas etárias.
E como o dia de hoje trouxe, como experiência pessoal, um verdadeiro debate intercultural sobre o que é educar criticamente, encontrando-se presentes mestres a leccionar em favelas brasileiras, docentes nacionais de bairros problemáticos quase tornadas guetos e ainda orgulhosos defensores do belo idioma catalão (um melting pot de vivências e olhares) tendo sido tónica a responsabilidade de ensinar a «olhar com olhos de ver» (defendida pela generalidade dos participantes), fica um simples poema que, em modesto entender, se torna forma de o fazer na infância, despertando sensibilidades para o mundo para lá da nossa porta:
Ó rapaz calado e pobre
Varrendo as folhas do chão;
A tua face descobre
O espelho da solidão.
Com teu carrinho de folhas,
Descendo pela avenida,
Se por acaso me olhas
Tenho vergonha da vida.
Diz que perdoas meu fato
Junto do teu abandono,
Moço de fato-macaco,
Que varres folhas de Outono.
Matilde Rosa Araújo
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1 comentário:
Discretamente, como sempre viveu, foi-se embora.
Quase em silêncio, como gostava.
Sem pompa, alarido, histeria ou falsa dor.
Ficam os seus livros para crianças.
Os seus poemas. Para elas.
E basta.
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