18 de junho de 2010
Profissões em vias de extinção: a modista
(imagem: altkirch.net)
Era na altura um estabelecimento vistoso: dispostos nas prateleiras tecidos e fazendas de diversas cores, de acordo com as melhores revistas de moda europeia amontoadas entre os sofás e sobre a mesa da sala de espera: recordo a «Mode et travaux», a «Burda» e tantas outras…Vendia ainda alguns artigos em malha de boa qualidade: «estes casacos e camisolas franceses duram uma vida» - dizia frequentemente a minha mãe.
Na época, o pronto a vestir não se encontrava generalizado, existindo pouca oferta. Sujeitávamo-nos a provas de vestidos, saias, casacos de Inverno. A D. Isabel, figura imponente, com parecenças à nossa grande fadista, fazia-nos experimentar a roupa com um zelo inexplicável. Contaram-me que enquanto jovem se destacava pelas lindas tranças vendendo, na vila de Sintra, aos domingos, queijadas, nos locais mais povoados por turistas . Pelo menos fazia duas provas ao longo da confecção dos modelos. Na sala de espera, sempre que na infância me mandavam ir sozinha à modista, aguardava um tempo interminável, a disfarçar irritações, já que as senhoras tinham direito a passar descaradamente à frente da criançada. Ouvia relatos de vidas mais ou menos felizes, onde a privacidade pessoal e da vizinhança eram expostas (diria eu) com crueldade . Calada e a um canto, incomodavam as longas esperas consideradas – após horas na escola – um verdadeiro desperdício de tempo a retirar momentos preciosos aos divertimentos de ar livre com a miudagem da vizinhança .
Um dia, no entusiasmo da conversa e durante uma prova, a D. Isabel engoliu um dos inúmeros alfinetes presos nos dentes, já que tinha por hábito tê-los assim próximos enquanto os ia fixando na fazenda das provas. O episódio teve direito a diversos capítulos com referência a radiografias várias, inúmeras idas ao médico e detalhes mais ou menos apropriados…
Com o correr dos tempos, a loja começou a perder relevo, destronada por um pronto-a-vestir cada vez mais qualificado, mesmo sem possível aproximação às suas qualidades de modista pois, mesmo nos kilts tão em voga em inícios de 70, tinha o cuidado de acertar geometricamente e com o máximo rigor o padrão de xadrez sem que pudesse haver defeitos a apontar.
De viagem para as aulas, ouvi um passageiro comentar no comboio que o salão de cabeleireiro e a modista da terra eram os locais onde se tinha acesso às últimas novidades locais.
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