8 de março de 2010

TODOS OS DIAS SÃO DIAS






















Em “Os Maias” Eça de Queiroz diz que “ a mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar bem.”
Durante o reino cadaveroso Salazar dizia que “o trabalho das mulheres fora de casa não deve ser incentivado. Uma boa dona de casa tem sempre muito que fazer”.
A mulher quer-se é em casa e também por esses tempos havia azulejos nas paredes da casa: “Cá em casa quem manda é ela mas quem manda nela sou eu.”
O sociólogo Arnold Toynbees disse que as lutas do nosso século se processam pela anulação de três supremacias: a da raça branca sobre as outras raças, a do patronato sobre o operariado, e a do homem sobre a mulher.
Metade da humanidade são mulheres.
“Por que é que o poder há-de ser exercido pela outra metade?”
Num esboço de peça de teatro Albert Camus exercita que os homens decidem que falharam e que devem entregar o governo às mulheres. Mas as mulheres querem imitar os homens e acontece o malogro. São aconselhadas a governar como mulheres. Uma experiência de um ano. Se tudo correr bem renova-se o contrato.
Tudo corre bem mas o contrato não é renovado.
“Faltava-lhes o ódio”.
Maria de Lurdes Pintasilgo disse que a igualdade surgiria quando as mulheres governassem. Aí demonstrariam que são tão incompetentes como os homens.
Num tempo, que não é assim muito distante, Diana Andringa falava de que a prova que a mulher não estava emancipada é que precisava de falar sobre a emancipação.
Mas a emancipação terá que ser a da sociedade. Ninguém se emancipa sozinho. Homens e mulheres, lado a lado.
Como é que ele chega a este ponto?
Porque não gosta do “Dia da Mulher”, porque entende que não as dignifica.
“Elas queriam outra coisa”, escreve Maria Velho da Costa.
Os homens também não chegaram lá.
Juntos será possível.
Ser simplesmente homens e mulheres – a única coisa a aprender.
Por dias claros e cidades tranquilas.
“No more”, como diria o corvo do Põe.
Por ele, chegado aqui, sente que não se devia dedicar a filosofias baratas, mas é um fraco.
A moral mata, já dizia o safado do Camus.

Legenda "O Homem Que Gostava das Mulheres" filme de François Truffaut, 1977

4 comentários:

teresa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
teresa disse...

Pegando nas palavras do post, eu não generalizaria com o «não gostam do dia da Mulher», "umas sim, outras não"- afirmaria eu, com as desculpas pelo atrevimento e não sabendo se por cá o INE tem algum estudo estatístico sobre a matéria...
Quanto à governação ou sobretudo à investigação científica (neste último caso há estudos interessantes, penso que não traduzidos para Português) a questão é interessante. Nos estudos efecutados, penso que uma das autoras é uma tal Susan Page, entre uma outra (não me recordo do nome), galardoada com um Nobel na área científica e de nome eslavo (será da Física??? estou a ter destas 'brancas')a conclusão interessante - e não redigida em tom de ímpetos feministas de queimar diversos utensílios domésticos e peças de vestuário na praça pública- é a de que a Ciência teria tido decerto uma progressão diferente: não melhor nem pior, mas a caminhar noutro sentido, apesar de sabermos hoje que o avanço da investigação científica também é comandado por interesses financeiros, entre outros.
Tive um professor que, no passado, em turma com cerca de 30 alunas e um único aluno do sexo masculino nos dizia (citando Eça, afirmava ele, mas percebi logo a 'adaptação') que as mulheres deviam ser bonitas e 'pouco iluminadas' (ele não utilizava bem a expressão por mim passada a eufemismo)...

08 Março, 2010 21:39

A OUTRA disse...

T:

Eu também não gosto do dia da mulher como aliás não gosto de outros dias especiais.
Penso que dia da mulher é todos os dias, e não só neste deve receber flores.
Boa semana
Maria

T disse...

Estás como eu Maria:) Mas eu prefiro plantas a flores. Beijinhos.