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Soneto XXXI
Com loureiro do Sul e orégão de Lota
te coroo, pequena rainha dos meus ossos,
e não pode faltar-te essa coroa
que a terra elabora com bálsamo e folhagem.
Tu és, como aquele que te ama, das províncias verdes:
de lá trouxemos barro que nos corre no sangue,
pela cidade andamos, como tantos, perdidos,
com medo de que fechem o mercado.
Bem-amada, a tua sombra tem perfume de ameixa,
os teus olhos esconderam no sul suas raízes,
o teu coração é uma pomba de mealheiro,
o teu corpo é liso como os seixos na água,
os teus beijos cachos orvalhados,
e eu, a teu lado, vivo com a terra.
Pablo Neruda em “Cem Sonetos de Amor”
2 comentários:
Este lado mais lírico de Neruda traz sempre à memória o filme 'O Carteiro', associações que cada um estabelece com maior ou menor subjectividade.
Um bom fim-de-semana:)
Caro Gin-tonic,
Não tenho a veleidade prosaica de comentar o Nobel - Pablo Neruda - antes, porém, apreciar o Poeta que rompeu as fronteiras do pensar e do sentir c/as suas maravilhosas poesias e a honesta atitude de político humanista, democrata e defensor da Paz.
Num mundo futebolizado, magnetizou um Estádio lotado de povo, a ouvi-lo recitar os
seus versos!
Apreciei bastante este Soneto XXXI que representa 1% da obra «Cem Sonetos de Amor», um dos pontos altos da lírica de Neruda, e do romantismo na ‘serenata’ à sua última musa, Matilde.
É sempre bom ler-se Neruda pela importância de se descobrir o Amor desde a primeira fracção da manhã, até ao último suspiro da noite sem problemas... ou orgulhos!... certamente porque não saberemos fazer a Paz, ou um mundo melhor, de outra maneira!
Apresento as m/s desculpas pelo abuso da m/presença e espaço ocupado, e agradeço-lhe o 'lembrar' à Blogosfera,... que ainda há temas úteis para recordar! (...)
Bem haja Gin-tonic.
César Ramos
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