14 de novembro de 2009

A minha rua

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 Gosto da minha rua. É uma destas ruas perpetuamente adormecidas, onde é raro ouvir o pregão duma colareja ou o rodar vibrante dum trem passando a trote. Não tem loja de vendas e as suas duas fileiras de casas são, condizentes com ela, tranquilas e quase soturnas. Ao rebentar da Primavare começam germinando entre as pedras da calçada tufozinhos de erva tenra, que, um dia, a vassoura da limpeza corta cerce e brutalmente. Não é de senhoras vizinhas e conversas de soalheiro. Os que a habitam são de génio pacato e acomodado, recolhem cedo e saem logo de casa para os seus afazeres, É uma rua boa para tristes e pessoas de idade, para quantos precisam de repouso e temem a perturbadora agitação dos outros.

André Brun, "Dez contos em Papel", Livraria Editora Guimarães, 1925

3 comentários:

teresa disse...

Linda a conjugação texto/imagem:)

Não conhecia estas linhas de Brun e, apesar de prezar muito o sossego, fizeram-me lembrar cidades-dormitório, lugares tristes por lhes faltar 'respiração'.

T disse...

Foi o primeiro livro que escreveu o Brun. Também morreu tão cedo...Quero ver se compro a Maluquinha de Arroios!

teresa disse...

Quanto à 'última', só me deliciei com o famoso filme e algumas versões de palco (mais ou menos conseguidas):)