30 de novembro de 2009
EM VIAS DE EXTINÇÃO
Chamem-lhe saudosismo, melancolia miudinha, o que quiserem, mas nunca mais ouviu música como no tempo do vinil.
Não era só o ouvir, era todo um ritual ligado ao vinil. Afectos e cumplicidades.
Comprar o “LP”, alguém terá que explicar a muitos miúdos o que é um LP, trazê-lo para casa nas capas de papel, em vias de extinção, ou extintas por completo, como esta da Discoteca do Apolo 70, tirá-lo, mirar mais uma vez a capa, algumas belíssimas e surpreendentes.
Sacar o disco para fora. Passar um paninho de veludo para lhe retirar as partículas de pó, colocá-lo no prato do gira-discos, escolher uma faixa e, delicadamente, deixar cair o braço da agulha…
Depois o ritual de virar o disco, os mesmos gestos...
Sentir que havia uma relação, íntima, em tudo aquilo: capa, disco, o deslizar da agulha, ao ponto de, até os débeis risquinhos, alguns não tão débeis quanto isso, terem encanto.
Aquelas coisas, simples, insignificantes que nos emocionam até aos limites da ternura.
Não foi há mais de 30 anos, mas tudo parece perdido numa nebulosa, rodas pretas que marcaram as vidas de muitos, o tempo do vinil,
Pequenas coisas que fazem toda a diferença. Quem sabe se não é aí, nas coisas que fazem a diferença, que começam os dias felizes. Por vezes esquecemo-nos que a felicidade pode ser o somatório de pequenas coisas que fazem toda a diferença.
O vinil é um objecto de culto, um “LP” emana calor, um CD é algo frigido, que à indiferença.
Parece que se quer voltar aos tempos do vinil, há uma procura por parte de gente nova que percorrem as casas especializadas e que aponta para esse regresso.
Pode-se voltar ao culto e ao bom gosto?
Pode-se voltar atrás?
O que foi não volta a ser, disseram-lhe outro dia.
Fizeram-se diversas experiências e as conclusões a que chegaram apontam para que o som do vinil é melhor, mais puro, a música ouve-se de uma outra maneira. É o que também sente, porque de tecnologias não percebe…
Os discos de vinil, as capas dos discos de vinil, levam-no ao ponto de uma tentação que lhe anuncia o prazer e transporta consigo o sonho de um dia ter uma sala totalmente forrada com capas de “LPs”
As paixões não se explicam…
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3 comentários:
Ainda ontem andei de volta "deles"...e realmente aquele ritual era uma delícia. Os passos acelerados entre a discoteca e o Harman Kardon, e a "semana santa" enquanto se devorava o conteúdo A e B.
Belos tempos....
E quando não havia dinheiro pedia-se para ouvir uma faixa.
é estranha a rapidez com que as coisas modernas desaparecem, não é?
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