4 de julho de 2009

SIMPLESMENTE CULTURA...

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No “Público-on line” a notícia de que Maria João Pires iria escolher a nacionalidade brasileira, originou para cima de 700 comentários. Pensa que nem a notícia da transferência de Cristiano Ronaldo, do Manchester para o Real Madrid, a tanto terá chegado.
Por um simples acto de higiene não leu todos os comentários, mas aqueles que viu, deu para concluir que a esmagadora maioria arrasam Maria João Pires pela sua decisão, decisão naturalmente discutível, mas que cai na esfera do foro pessoal. Mas daí a considerá-la uma “chula” que vive à conta do estado, é algo que toca as raias da barbárie.
A esmagadora maioria destes comentadores, porventura, nunca ouviram uma nota de piano saída das mãos de Maria João Pires. Tão pouco saberão o que é Belgais.
Via “5Dias.net” leu o que um inqualificável jovem, que certamente não precisou do estado para estudar, se é que estudou, escreveu em “O Insurgente”:
“Maria João Pires decidiu abandonar a nacionalidade portuguesa e partir para o Brasil. Era bom que os restantes parasitas lhe seguissem o caminho”.
Entrámos na Europa mas preocupámo-nos em gastar dinheiro em auto-estradas, estádios de futebol, outras obras de fachada. Admitimos, ao tomar a “bica” no café do bairro, que cultura é o lixo que diariamente consumimos sentados frente a um aparelho de televisão.
Como, amargamente, dizia Jorge de Sena: «O problema não é salvar Portugal, é salvarmo-nos de Portugal.”

3 comentários:

Anónimo disse...

"Longe de ti, penso em ti, junto de ti penso em ti...
"Longe das marés, dos desertos, dos homens em guerra, penso em ti...
"Longe de mim, penso em ti...
"Longe das persianas fechadas e das borboletas da Amazónia, penso em ti...
"Longe de cada indiferença, penso em ti...
"Longe tão longe, longe onde não há mais nada, penso em ti..."
Yves Simon, O Viajante Magnífico, ...

Teresa disse...

Clap! Clap! Clap!

Li a notícia, no Público, alguém no Facebook anunciou a decisão da grande Maria João Pires de renunciar à cidadania portuguesa.

Pessoalmente, é coisa que me faz enorme impressão (que frase tão estúpida). Eu nunca seria capaz de me fazer cidadã de outro país que não este que me viu nascer, por mais defeitos que ele tenha. Mas eu não sou Maria João Pires, sou um zero à esquerda, que sei eu das razões dela? Sir Anthony Hopkins, por exemplo, fez-se cidadão americano (fez-me impressão, uma vez mais).

Haja respeito, que a Senhora é uma grande artista.

teresa disse...

Penso que a transcrição da lalage diz tudo:) não é a saída do território que conduz as pessoas ao esquecimento. Achei os versos marcantes (e concordo com a ideia). Quem aprecia Maria João Pires (vi-a pela primeira vez no zip zip) sabe que a qualidade não se prende com o espaço (até poderia escolher ser cidadã da Nova Zelândia) nem tempo (acredito que o seu desempenho irá perdurar através das gerações de melómanos). Disse-me uma amiga de certa forma ligada ao local beirão que lhe fez impressão vê-la de enxada na mão (opção pessoal da pianista) a cavar a terra, quando sabe que para alguns pianistas é primordial o extremo cuidado com as mãos... tem tanto direito a fazê-lo, como a assumir a nacionalidade que bem entende.
Repetindo-me e por um qualquer traço de personalidade que para aqui não tem interesse esmiuçar, gosto de ver por cá (porque aqui nasci e aqui vivo, com gosto) gente com qualidade ( como terão vivido Camões, Pessoa...) mas isso é um sentimento estritamente pessoal que não justifica comentários de cariz troglodita. Imaginem se houvesse desse tipo de reacções como algumas das enviadas ao Público online de cada vez que um jogador português fosse transferido para um clube estrangeiro!
Já tenho comentado pontualmente no jornal electrónico (especialmente sobre questões que me dizem muito directamente respeito) e há comentários com que esbarro que me fazem pensar no manifesto anti-Dantas do Negreiros (na parte 'se o Dantas é português...')
Gosto de ter esta nacionalidade - e aqui foi o comentário da Teresa que me suscitou a reflexão - mas, tendo visto o percurso de vida de alguns familiares no tempo anterior a 74 (um em França, outro no Canadá desde 60) não sou capaz de dizer com toda a certeza que nunca mudaria de nacionalidade e, para este particular (e não generalizável a todas as frentes, pois todos temos convicções, valores ou o que lhes queiram chamar) valorizo aquela frase: 'nunca digas, nunca'.