5 de julho de 2009

OS CINEMAS TAMBÉM SE ABATEM

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Cresceu numa parte da cidade rodeado de cinemas por todos os lados: “Cine-Oriente”, “Royal”, “Lys”, “Rex”, “Max”, “Imperial”, “Império”, “Aviz”. Alguns foram demolidos, outros ainda existem, mas já não são cinemas.
No “Cine-Oriente”, no “Royal”, no “Imperial”, no “Lys”, principalmente nestes, passou horas e horas dos dias da sua vida. Viu de tudo. Mais tarde haveria de ler em Bernardo Bertolucci que “só se aprende cinema vendo cinema”.
Gostaria de começar esta peregrinação por um destes cinemas. Mas não há programas, eram cinemas de reprise. Mas acontece que um dia o “Lys” mudou de nome, passou a “Roxy”, dedicou-se a estreias, e passou a haver programas. Este que aí está, por sinal, o primeiro. Assim poderá começar a peregrinação pelo que foi o velho “Lys”.
No nº 20 da Avª Almirante Reis, em Lisboa, o cinema “Lys”, em 11 de Dezembro de 1930, abria as suas portas.
Recorda, em quase todas as Semanas Santas da sua adolescência, o cartaz com “A Túnica”. Foi no “Lys” que pela primeira vez viu “O Comboio Apitou Três Vezes” com o Gary Cooper. Por um Maio, no meio da década de 60, viu lá um “007 Ordem para Matar”, com o Sean Connery, o melhor Bond de sempre, o Matt Munro a cantar “From Rússia with Love I fly to you”, que lhe deixou amáveis recordações. E não propriamente pelo filme…
Na esquina da Almirante Reis com a Rua Andrade havia um tasco com bifanas , já falou dele por aqui ( 13.05.2009) ) que, supõe, antes ter sido uma farmácia. Era a festa dos domingos em que não havia jogo do “Glorioso”: cinema, bifana, copinho de três branco. Depois atravessar a avenida para bica no “Café Ribatejano”, já na rua dos Anjos – café, restaurante, sala de bilhares, um quiosque de jornais. Hoje é uma loja de venda de artigos para restauração e hotelaria. Ainda na Almirante Reis, frente ao “Lys” a “Pastelaria Delta” onde as senhoras chics da zona tomavam chá e comiam torradas, com as filhas sentadas em redor e a malta passava para olhar, apenas para olhar...
Mesmo ao lado da "Delta" a casa de chás e cafés “Moinho do Lys”. Tanto a pastelaria, como a casa de cafés ainda lá estão.
Em 26 de Junho de 1973 o “Lys”, após obras de remodelação, dava lugar ao “Roxy” e passava a cinema de estreia..Com “Alfredo, Alfredo”, filme de 1972 de Pietro Germi, com Dustin Hoffamn, que seria o último filme que realizou, pois veio a morrer em 1974...

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É este o texto que se pode ler na contra capa do programa do “Roxy”:
“O cinema “Roxy” abre hoje ao público. Assim Lisboa passa a contar com mais uma sala dedicada à estreia de filmes, servindo uma zona que dada a sua densidade populacional e intenso desenvolvimento justifica plenamente a iniciativa.
A programação, a cargo de duas prestigiosas distribuidoras – Filmes Castello Lopes e Filmes Lusomundo -, anuncia-se de grande interesse e impacto, procurando conciliar o lado espectacular do cinema com exigências da mais alta qualidade. “Alfredo, Alfredo” é testemunho significativo.
Local bem conhecido tradicionalmente dos espectadores de cinema da capital, “Roxy” surge-nos um cinema novo – actualizado no critério de selecção de filmes, actualizado nas instalações e no equipamento.
O “Roxy” conta com a lotação total de 553 lugares (Plateia 331 lugares e Balcão 222), e funcionará com um horário especial: três matinées (14,15, 16,30 e 18,45 horas) e uma sessão nocturna (21,45 horas).
Pedro Emauz Silva foi o arquitecto-decorador encarregado das remodelações que o Público presentemente terá oportunidade de apreciar por si próprio.”
O “Roxy” nunca atingiu a popularidade do “Lys”. e foi lá apenas quando abriu as portas.
Do “Lys” tem ternas memórias e, dizem, que não se deve voltar aos lugares onde se foi feliz, lugar comum sujeito a discussões de ordem vária.
O “Roxy” entrou em decadência e em Abril de 1988 fechou as portas como cinema. Foi estúdio de publicidade e oje alberga escritórios e lojas, mas tudo com um ar de desmazelo mesmo deplorável. Também lá está um enorme supermercado de calçado: a “Sapatolândia”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Depois atravessar a avenida para bica no “Café Ribatejano”, já na rua dos Anjos – café, restaurante, sala de bilhares, um quiosque de jornais. Hoje é uma loja de venda de artigos para restauração e hotelaria.

Não é exacto, fica um ao lado da outra.

gin-tonic disse...

Caro anónimo: começa por pedir desculpa por só agora chegar ao seu comentário e admite desde já que talvez não tenha sido muito claro na exposição. O que pretendeu dizer é que, finalizados a bifana, o copo de três branco, para beber a bica atravessava a avenida para ir até à rua dos Anjos, ao Café Ribatejano, que tinha um quiosque de jornais do lado esquerdo da entrada, ao fundo da sala era restaurante e no lado direito havia a sala de bilhares. Hoje está lá a "Nortel" uma casa de utensilios para hotelaria. Mas, como disse, admite que não tenha sido muito claro.
Realamente, ao lado do tasco das bifanas, esquina da Almirante Reis com a Rua Andrade, havia um café mas não era o "Ribatejano" Crê que se chamava "Colonial"
Um abraço
Um abraço

gin-tonic disse...

Caro anónimo e restantes viajantes dos Dias que Voam: até domingo irá ausentar-se de Lisboa, a viagem programada que o impede de ver a Susanne Vega em Sintra. Não estranhe se, na eventualidade de aqui voltar, as suas palavras não encontrarem eco.
Pedidos de desculpa pela inconveniência.

teresa disse...

Que seja uma boa viagem e óptimo regresso, gin.
Também irei trocar a Suzanne Vega por um concerto de 'flamenco' a poucos quilómetros da cantora, dado que um dos miúdos ainda o conheci na barriga da mãe e há que 'dar uma forcinha' aos jovens talentos, e estes são dos que têm inspiração, mas também muita 'transpiração':)