5 de julho de 2009
Memórias de Sintra: Leal da Câmara
Tomás Júlio Leal da Câmara nasceu a 30 de Novembro de 1876 em Pangim (Nova Goa) na antiga Índia Portuguesa. Ainda criança veio para Lisboa e desde cedo revelou um talento especial para o desenho e, em particular, para a caricatura. Aos 11 anos já colaborava no jornal do liceu e, pouco depois, assinava trabalhos em vários jornais e revistas e fazia ilustrações de livros, nomeadamente da pedagoga Ana de Castro Osório. Porém, talvez por influência familiar, acabou por inscrever-se no Curso Superior de Agronomia e Veterinária. A morte do pai, quando tinha apenas 19 anos, levou-o a abandonar os estudos e a dedicar-se à arte da caricatura.
Seduzido pelo ideário republicano tornou-se um prolixo autor de caricaturas anti-monárquicas que frequentemente deram origem à apreensão dos jornais em que colaborava. De tal modo sentiu a censura – chegou mesmo a ter um mandado de captura – que se exilou, primeiro em Madrid e depois em Paris, só regressando a Portugal depois da implantação da República em 1910. Entusiasmado com o novo regime, cedo se desiludiu com as pugnas partidárias e de novo rumou a Paris em 1913, mas o início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, forçou-o a retornar a Portugal.
Nas primeiras exposições que fez em Mem-Martins e na Rinchoa, os próprios saloios gostaram de se ver retratados assim. Os seus saloios não são depreciados, quer sejam homens, mulheres ou crianças. Independentemente da condição social, ele trata-os sempre de uma forma nobre. Quando descansam, é porque merecem, porque trabalharam ou estão a trabalhar ou porque estão na feira a vender; não são os saloios bêbedos, caídos, aqueles saloios que não prestam, aquelas mulheres de má vida. Ele não pinta nenhuma saloia assim, nem um saloio mandrião. Os saloios são dignificados, de tal modo que, porventura, ainda hoje se revêem nesses desenhos. Pela primeira vez, a figura do saloio é enaltecida.
(transcrito com supressões)
Fernando Moreira e M.Lúcia Carvalhais, Escola Secundária Leal da Câmara: Memória de 20 anos, 2006.
legendas: 1- Leal da Câmara enquanto jovem; 2- o saloio visto por Leal da Câmara; 3- Alegoria à República (s.d.); 4- Bernardino Machado (1911)
(com os agradecimentos aos professores da Escola Secundária de Leal da Câmara- Rinchoa que me facultaram o exemplar de onde transcrevi o texto)
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