29 de julho de 2009

... e porque é dia de aniversário

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Durante a manhã de hoje e em conversa de circunstância com uma amiga que vive nas proximidades, evocámos o grande incêndio ocorrido pela serra há dois verões. A Ana, morando perto do local ameaçado e tendo um filho hoje com 3 anos que, nesse dia fatídico, se encontrava em casa com a empregada doméstica tentou, a todo o custo, chegar à habitação. Os bombeiros e a polícia formavam barreira a cortar a estrada, pois o calor e o vento que se faziam sentir contribuíam , a cada minuto, para o alastrar das chamas.
Mas uma voz de mãe desesperada tudo pode (e quanto a mim tudo comanda) e a entoação terá sido de tal modo veemente que lá chegou a casa, tendo conseguido resgatar com sucesso os dois habitantes. Hoje e a propósito do triste acontecimento que tantos espaços verdes e parte de algumas habitações danificou, dizia-me a minha amiga: “nestas alturas, para lá do meu filho e da empregada, só me ocorreu salvar as fotografias”… E a frase da Ana transportou-me ainda para uma outra ocorrência: a casa de uma amiga de infância há cerca de 15 anos assaltada. Neste caso, o que a Paula mais lamentou foi o desaparecimento de uma mala onde guardava cassetes vídeo com registos dos três filhos ao longo do crescimento, mais do que os valores materiais que consistiam em algum ouro herdado de avós ou bisavós, bem como os electrodomésticos mais facilmente “manuseáveis”. A revolta por tal perda de memórias foi tão expressiva que, passado um mês, já tinha conseguido vender a moradia e feito a mudança para um andar antigo, comprado em Lisboa.
Por estranho que pareça e em dia de pouca inspiração (estou a reservá-la para tentar concluir um trabalho de faculdade), tudo isto me remeteu para o “Dias” hoje aniversariante – o passado é importante por perpetuar a nossa identidade, embora acredite que tal convicção não signifique uma vida exclusivamente projectada nos tempos que voaram e, atrever-me-ia a concluir ser essa mesma ideia que todos nós para aqui tentamos transportar, e que nos permite viajar no tempo através de histórias antigas (individuais e colectivas) , de registos circunstanciais do quotidiano ousando, de igual modo , viagens ao futuro.

4 comentários:

T disse...

Não vejo o futuro e o presente de forma dissociada do passado. Acho que tudo "faz parte". Mas confesso que invisto muito tempo, dinheiro e paciência em recuperar coisas, que de outra forma cairiam no esquecimento e ainda não estão online.
Esse devolver enriquece o presente e o futuro e facilita a vida a muitos estudantes que recorrem incessantemente solicitando materiais ou esclarecimentos via e-mail. Geralmente encaminho esses pedidos para quem escreveu o post e o seu a seu dono, o carlos tem muitíssimo jeito para lhes responder:)

teresa disse...

Concordo contigo, T. E ainda bem que o fazes, penso que cada um de nós tem de ter coisas que entusiasmem, não consigo ver o dia-a-dia de outro modo. (no meu caso é, muitas vezes, ficar a pensar nos acontecimentos do dia, o que nem sempre dá texto por ter ficado muito tempo, ao longo do presente ano, entre o escritório e o jardim com ocasionais idas à horta):D
Há anos e em paragens distantes, estando a jantar com um grupo com gente de diversos países (nos states), fiquei impressionada quando o empregado de mesa, percebendo que havia pessoas do Norte da Europa, disse qual era o seu apelido e perguntou aos presentes qual seria o país de origem do seu nome. Fiquei apreensiva por entender que àquele jovem, os pais e avós nunca tinham contado a história familiar... e quem diz história familiar, diz história de identidade e de cultura.

Assunção disse...

Tenho várias amigas a quem faz muita confusão o gosto que tenho em fotografias e "coisas velhas". Não entendem o prazer que me dá folhear os álbuns, poder recordar as situações e histórias e contá-las às minhas filhas, apontar-lhes pessoas que foram importantes na minha vida, apresentar-lhes familiares que formam as raízes da nossa família. O poder, também, mostrar-lhes objectos que pertenceram aos avós e bisavós e passar-lhes orgulhosamente esta espécie de herança que se traduz em pratos e terrinas, binóculos de teatro, boquilhas, sinetes, leques, bordados, roupas, caixinhas de pó-de-arroz e tantos outros pequenos e grandes tesouros que fazem parte do nosso passado familiar.
A mim, pelo menos, faz-me sentir como se vivesse há 200 anos e cheia de histórias para contar!!!

teresa disse...

É importante não perdermos as nossas raízes, São. E elas também passam por aí: fotografias, objectos que nos 'contam' histórias da infância, lugares que, a não serem preservados pelas tais fotografias, acabariam por cair no mais profundo dos esquecimentos...
Quem defende que se deve conversar com os mais novos logo desde que nascem ainda valoriza mais essas coisas. Sempre percebi que, tentando trazer estas narrativas aos mais pequenos, eles ficam ouvintes atentos (o que também é importante) e registam-nas na memória ao longo da vida.