6 de julho de 2009

COMEÇOS DE LIVROS

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"Eu andava, aquele Inverno, sacudido por abstractos furores. Não direi
quais, não é isso que me proponho contar. Mas é preciso dizer que eram
abstractos, não heróicos, não vivos; de qualquer forma, furores por ver
perdida a espécie humana. Isto há muito tempo, e andava com a cabeça
caida. Via comunicados gritantes nos jornais e baixava a cabeça; via os
amigos, durante uma hora, duas horas, e estava com eles sem dizer uma
palavra, baixava a cabeça; e tinha uma rapariga, uma mulher, que me
esperava, mas nem sequer com ela dizia palavra, também baixava a cabeça.
Ia chovendo e passavam os dias, os meses, e eu tinha os sapatos rotos, a
água entrava-me nos sapatos, e não havia mais nada além disso: chuva,
massacres nos comunicadsos dos jornais, e água nos meus sapatos rotos,
amigos mudos, a vida em mim como um negro sonho, e nenhuma esperança,
apenas calma.
O mal era esse: a calma na não esperança"

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