(Algueirão-Mem Martins: antiga festa e capela da Sra. da Natividade) As festas populares perdem sabor para quem as viveu na idade do encantamento. Tendo começado a frequentar a festa da Sra. da Natividade quando, muito cedo, fui morar para o Algueirão, lembro o terreiro junto à capela - hoje ladeado de prédios descaracterizados – e o tradicional evento em que cavaleiros com lanças tentavam furar rodas de papel penduradas bem no alto, entre enfeites coloridos, sendo esse o principal atractivo da festa. Quanto a ranchos folclóricos, passou posteriormente a existir o das «Mondadeiras do Algueirão» embora seja mais entusiasta de ranchos ancestrais, como o de Miranda do Douro que me parece até hoje manter o respeito por ancestrais tradições.
A propósito de rituais antigos, evoco uma visita a uns velhos amigos (já regressados ao continente) que , após terem comprado uma quinta em Marco de Canavezes (daquelas à séria, com pecuária incluída), chegaram à conclusão que o seu local de trabalho, cada ano a distanciá-los, afectando também os filhos, só cessaria com uma opção radical. E assim foram viver para a ilha de Santa Maria nos Açores. Quando os revi, ao fim de 20 anos de trabalho conjunto em África, o Zé Maria tinha acabado de chegar de uma digressão pascal (exclusivamente masculina) de romeiros pela ilha e , apesar de só o ter feito por motivos de viver a tradição, regressava radiante após a experiência de uma viagem de vários dias, conhecendo uma natureza em estado quase selvagem e – se a memória me não falha – pelo exclusivo prazer da companhia e da caminhada, pois uma das regras é a de praticamente não serem trocadas palavras durante a digressão de vários dias.
Hoje tudo mudou: fujo destas festas com música distorcida e invadidas por inúmeras diversões que tentam ser cópias mal conseguidas (opinião pessoal) de um qualquer luna parque. Os palcos com música – pelo menos por estes lados – não trazem qualquer atractivo, sendo espantoso quando nos apercebemos de quem são os músicos que por cá mais vendem (parece que actualmente é uma tal de Rosinha, e esta, hein?).
Onde moro actualmente, participo – por razões de me ser vital o processo de socialização quando ligado às tradições – no S. João Degolado, por ser necessário um grupo que “dê voz” às cantorias. O ganho foram algumas (poucas mas sólidas) amizades feitas no grupo. Para além desta prestação, tudo se me afigura ficcional: as senhoras desencantam roupas do fundo das arcas, parecendo dar abertura à temporada de ópera do S.Carlos e – pasme-se! - evola-se das indumentárias um aroma à velhinha naftalina a fazer espirrar os mais sensíveis -, os cavalheiros ostentam ares importantes usando, nesses dias, o antigo relógio de corrente amarela herdado dos antepassados e, sempre que as eleições se aproximam, os autarcas mais proeminentes marcam presença nas comemorações religiosas, fazendo-se, em tempos mais ‘discretos’, representar por assessores que vão (mais ou menos disfarçadamente) bocejando e olhando para os ponteiros do
Rolex.