10 de junho de 2009
Preparos
Pois é. Feriado e Lisboa ainda mais vazia, menos no Pingo Doce. Na fila para a caixa, deparo-me com um casal extraordinário: ela terá quase uns sessenta, compridas extensões loiras, morena dum tom baço, profusão de tatuagens apagadas no corpo , maquilhagem carregada e verniz flamejante sobressaíndo das sandálias douradas, um top que mostra o soutien e a barriga sem muita amabilidade. Deve ter sido bonita em tempos, mas agora resta um semblante carregado e duro. Traz à trela um gabirú gingão, com pinta de carteirista, óculos escuros e sandália de enfiar no dedo, também do mesmo tom de moreno gasto, que enfia o nariz em todos os produtos. Saltita e tenta colocar mais umas comprinhas no cesto, no que é rechaçado impiedosamente pela loira apesar dos beijos e festas e "mor" dispensados. Diz ela quando ele se afasta: Estes homens querem é roubar-nos tudo, não há condições.
Atrás de mim uma bonita negra abana a cabeça e diz: Esta mulher não tem preparos, olhe a idade!
O segurança avisa-me: cuidado, ele é o carteirista do Minipreço! Eu agradeço e sorrio. E fico a pensar qual é o factor mágico que mantém as pessoas juntas.
Esboço retirado das Modas e Bordados sobre como deve ou não usar-se um decote.
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3 comentários:
Excelente! E a imagem também. :)
Não pude tirar foto! Ainda me gamava a máquina :)
Até parece que estou a ver o quadro:)... e que a lucidez e noção de estética nunca fujam a quem já há muito passou pelas juvenis evasões britânicas, sabendo encontrar-se fora do prazo de validade a fase "flower power" restringindo ainda, e por motivos geracionais, o conceito de tatuagem aos corações trespassados a sangrar com os dizeres "Guiné 1970", ou coisa parecida (conhecidos só de memória visual e nunca uma adepta do modelito)
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