13 de junho de 2009
Memórias dos "Dias que Rodam"
O Dodge do meu avô materno, igual ao representado, passou para um grande amigo da família tendo-nos conduzido, já em sua posse, a uma digressão pelos Pirenéus. A potente viatura suportava ainda uma caravana de fabrico artesanal, made in região Oeste, com um peso inimaginável. Antes de passarmos a fronteira o automóvel, já em 65 considerado um vintage levou-nos, para a indignação da minha mãe a ouvir, na fronteira , uma miúda que passava a cantar “O calhambeque” de Roberto Carlos. A odisseia, cheia de peripécias que recordo apesar de ser então uma criança, daria um extenso relato de viagem.
Na época, o meu pai tinha um Peugeot 403 comprado em 2ª mão (no mínimo) que ficou em nossa posse por mais de uma dúzia de anos. Era exactamente da cor do representado na fotografia. Na garagem havia uma lata de tinta para tapar os riscos. Acontece que o meu irmão J e eu fizemos um baloiço e decidimos pintá-lo (éramos uns perfeccionistas)com a tinta religiosamente guardada, o que nos valeu reguadas (ao Jorge, uma e a mim, dose dupla, pois decidi contestar a primeira retaliação).
O meu primeiro bólide foi um Fiat Polski 126 comprado ao casal Gorazdowski de Varsóvia quando morava longe destas paragens. Era igual ao da fotografia e foi baptizado por um cidadão inglês- com o seu humor britânico lá muito do Norte- como “bomba azul”. O facto de o conduzir numa cidade onde os acidentes – mesmo para a sinistralidade nacional – eram dignos de um filme de terror, faziam com que fosse encarada como uma espécie de kamikaze, embora tudo tenha acabado sem acidentes - penso que as reduzidas dimensões da carripana me ajudaram sempre a escapar no meio do caos rodoviário.
O espírito revivalista ainda explica a posse deste “boca de sapo”, embora a opção seja pouco prática, pois o referido anfíbio (ou será batráquio?) de quatro rodas consome gasolina com chumbo e pouco tem arejado nos últimos tempos, independentemente do nostálgico cheirinho a antigo e do rádio cheio de ruídos, botões e teclas (mas sem FM).
Penso que o gosto por automóveis é algo de predominantemente masculino: na visão pessoal, um carro tem préstimo se não parar por qualquer capricho e me puder conduzir onde preciso, sobretudo quando se reside numa região tão mal servida de transportes. Acontece que a família se preocupa (mais do que a própria) e, com alguma regularidade, lá vem o recado: “troca de carro, não pela tua condução (aqui estão a ser amáveis), mas para teres um veículo com maior segurança, vê-se cada disparate na estrada… ”. Atendendo à teoria exposta, não me surpreende caso venha, nos tempos mais próximos, a ser presenteada com um Chaimite envolto num laçarote e acompanhado de um postal de boas-festas … e que eu seja ceguinha se alguma vez cantar como a Joplin na súplica por um Mercedes, pois para mim – e agora sem ironizar – essas coisas prosaicas não devem ser utilizadas para incomodar as esferas do divino, atendendo ao carácter estritamente materialista da questão.
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12 comentários:
Penso que achará piada a este quadro comparativo que o Te Guardian fez:
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/table/2009/jun/03/everyday-design-classics
recordo me dum onda civic (pequenino, branco) que os meus pais tiveram, e por ser tao pequeno talvez, foi sendo posto de parte.. ao fundo da garagem..
a determinada altura la se foi abrir o carro e recordo me perfeitamente, pois adorei.. os estofos e tapetes do carro estavam carregados de cogumelos!!! imensos cogumelos!! naturalmente devido a mofo ou humidade, do tempo que ele esteve ali esquecido. Curiosamente nao me recordo qual foi o fim deste carro.. beijinho Teresa :)
Obrigada, lalage. Vou espreitar o link.
Tareca,
Tenho um colega que, durante alguns anos, estudou em profundidade os cogumelos, sabendo quais os comestíveis, talvez esses pudessem ter sido aproveitados para uma receita de gourmet:)
'andemira-te'..
Risos. Já vi que o "teresês" está a fazer escola...:)
entao nao esta?! adianto que acabo de mandar a Carminho estar 'sugada'! aaaahhhhhhh!!!
'Tadinha' da Carminho:)
Não tem carta de condução.
Essa incompatibidade com os carros não o inibe de gostar de os ver, principalmente estes velhos modelos, os da sua adolescência. Perde-se por fotografias de Cuba, com aqueles carros velhos americanos, presos por arames, com peças inventadas.
Se tivesse um carro seria um Citroen Dois caavlos. Entende que ter um dois cavalos é uma certa maneira de estar na vida, sabe lá como e porqê.
Há dias, ali na Av^ Almirante Reis, ao pé da "Portugália", foitografou um. Há-de publicá-lo, aqui, um destes dias, anda só à procura de texto.
A talhe de música: "O Calhambeque" é a versão de Erasmo Carlos para uma canção dos irmãos Loudemilk, de nome "Road Dog". Gosta particularmente da versão do Joe Dassin que lhe chamou "Bip-Bop". Joe Dassin que morreu prematuramente em 1980 com 42 anos, uma referância musical da sua vida -"Et Si Tu n'Existais Pas"
Caro gin,
quanto às fotografias de Cuba e aos automóveis, o comentário remeteu-me para o fantástico Buenavista Social Club, um filme de culto (muito mais do que pelos carros, é claro).
Sempre apreciei os 2cv (não confundir com a versão mais estilizada dos Dyane de edição posterior), embora recorde um episódio de juventude onde, numa subida íngreme, só lá deixámos o condutor porque o carro não conseguia subir a rampa (e na altura era tudo gente elegante):)
Desconhecia a versão do Joe Dassin e recordo a do Roberto Carlos, intérprete que nunca apreciei (até prefiro o Reininho a interpretá-lo).
Tenho algumas "fobias" de condução, pois só gosto de andar pelas estradas da "ruralidade", aí é mesmo relaxante conduzir. Os amigos mais próximos riem-se disso e, quando sabem desta fobia, referem que nunca imaginariam tal, isto porque aprendi a conduzir num país onde nem sequer nos ensinavam a estacionar de marcha-atrás (dizia-se que havia muito espaço, não sendo necessário provocar amolgadelas nos outros). E cá ficamos à espera dessa fotografia do 2cv:)
Para os amigos da 2 cv, aqui vai uma bela homenagem à "deudeuche",
com música e letra, em francês:
http://www.lisaredal.fr/deudeuche.html
Emma
Obrigada, Emma.
De rien, T(t)eresa ;)
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