10 de junho de 2009
COISAS DO SÓTÃO
“Os Lusíadas”
Luís de Camões
Edição organizada por Emanuel Paulo Ramos
Porto Editora, Limitada
Porto s/d
Edição escolar de “Os Lusíadas” por onde, qual Cabo das Tormentas, dividiu orações, fez interpretações diversas, disto e daquilo.
Nome predicativo do complemento directo, vocativos, metáforas, perífrases, hipérboles, onomatopeias, asféreses, hipérteses, metáteses, antíteses, sinédoques,
Por causa de tudo isto, e algo mais, quantos jovens não mais quiseram saber de Camões, da poesia, de livros?
Pior, só o óleo de fígado de bacalhau.
Mas quantos ultrapassaram o pesadelo e se maravilharam com Camões., com a poesia, com os livros?
Não conhece, não deverá existir, certamente, qualquer estudo, mas dá como certo que são grandes as probabilidades de os primeiros ultrapassarem em muito os segundos.
“Olho para o passado e vejo a Gramática. A Gramática. A Gramática.
Eu nem sei como aprendi a gostar de ler”. Sebastião da Gama, “Diário, 1962.
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7 comentários:
Por "ossos do ofício" e porque gosto muito daquilo que faço, enquanto me deixarem dar aulas e não me "encherem de cargos que dispenso" (o que explica o "exílio" do presente ano), estas reflexões do gin tenho-as também com frequência.
Também pertenci à geração torturada pela divisão de orações e só aprendi a gostar para sempre de Os Lusíadas no ano em que comecei a dar aulas. Tive de me preparar muito bem e fiquei para aí uns 5 dias trancada no quarto, a ler a epopeia de um extremo ao outro, saindo do "retiro" por motivos estritamente de sobrevivência, com direito a ouvir a minha avó Zé a dizer-me "ainda enlouqueces como aconteceu com um primo nosso antes de terminar o curso de Direito".
Estas reflexões lembram-me ainda a minha avó Antónia, alguém muito importante já aqui mencionada. Esta mulher admirável (para mim e mais alguns), tendo a 4ª classe feita numa escola primária da baixa lisboeta, tinha lido todos os clássicos portugueses, falava num português escorreito e escrevia sem erros. Isto não para defender que "antigamente é que se aprendia", não subscrevo essa tese (há muitos analfabetos funcionais com alguns anos de escola), mas que o gosto pelos livros e pela nossa língua também tem muito de características individuais.
Correndo o risco de tornar o comentário num lençol, se me perguntassem qual um dos melhores momentos vividos na profissão, destacaria uma turma, na época só com 8 jovens de 16-17 anos que iriam seguir artes. No final do ano, depois de eu ter feito o impossível para que gostassem de Eça, o miúdo mais arredio a essas coisas, virou-se para mim com uma expressão transparente e disse: "prometo perante todas estas testemunhas que, durante as férias, vou ler Os Maias de uma ponta à outra sem falhar os pormenores, é que fiquei mesmo entusiasmado"... e estes ainda vão sendo os doces a que uma professora de Português que gosta de ensinar vai tendo direito. E que não se encare o desabafo como um "muro de lamentações" pois, apesar de ser boa ouvinte entre pares, por vezes há lamentos que começam a cansar (e "prontos", as desculpas por fazer um comentário muito mais extenso do que muitos dos posts, mas há temas/problemas que magnetizam por motivos óbvios).
Eu tive a sorte de ter uma óptima professora de português, hoje já reformada, que é a Amélia Pais. Por isso adorei os Lusíadas apesar das métricas e quejandos. Ela soube fazer uma aventura cm suspense deste poema.Estou-lhe grata.
Tenho diversos livros da Amélia Pinto Pais, todos eles sobre a obra de Camões, e acredito que tenha sido um privilégio teres tido tal professora:)
(um dos livros traz ilustrações lindíssimas)
Foi minha professora uns cinco anos, para grande azar dela. Risos.
Eu sempre gostei de ler, mas os Lusíadas» eram uma «chatice». De Camões gostava dos sonetos e é de tradição haver bibliotecas grandes na família, tradição que os meus filhos seguiem. Em aodolescente li o volumoso Guerra e Paz de Tlstoi numa semana, mas uma tarde dava-me para ler «volimes» como o Exodus, de Leon Uris.
H+a muiro que conheço e visito este blog, que me agrada.
Sé nem sempre identifico alguns sítios :-)
Abraço e continua
Victor Nogueira
Ajuda muito quando existem boas bibliotecas em casa:)Um abraço Victor e obrigada em nome de todos.
Eu gostei da divisão de orações... Devo ser mesmo "desviada".
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